sábado, 21 de outubro de 2023

crônica da semana - eclpse à noite vale

 Eclipse à noite também vale

Como diria aquele erudito, tirando leite das pétreas referências filosóficas forjadas do discurso principesco de Maquiavel, “o eclipse tinha que acontecer era de noite”.

E jura que eliminaria risco de a luz do sol nos magoar as vistas.

Esta possibilidade é um tanto de absurdo da negação pra gente nem dar trela. Mais porque o eclipse do Sol é um fenômeno de alta grandeza, um movimento natural meticulosamente traçado pelo precioso ciclo celeste. E também pela estranheza composicional do evento, colocando o sol pra trabalhar de noite. Nem se a Terra fosse plana seria combinação possível. Deixa estar que entendo. É por cauda da trabalheira que dá para ter êxito na observação diante do brilho forte e impactante do sol. E por entender, dou aquela assoprada. Existe sim um tipo de eclipse que acontece de noite. Só que não é do sol. É o eclipse da lua. Que se não é de igual beleza e valor, é parecido. E vamos nos aviar, que agora em outubro, antes do fim do mês, tem um.

Voltando para o dia claro, tivemos um evento raro se realizando no céu do Brasil, sábado passado. Em alguns pontos do país, mais completo, em outros, menos. Em todos os casos e modos, fascinante: o eclipse anular do sol.

Anular porque no momento de maior expressão, a imagem formada na combinação de posição Terra-Lua-Sol, lembra um anel. E pela emissão de luz, nas bordas, um anel de fogo. Isso acontece porque o sol não some totalmente atrás da lua. Quando some inteirinho, o fenômeno recebe o nome de eclipse total.

Eclipse quer dizer desaparecimento, abandono. É o caso de um objeto ser encoberto por outro. No caso do evento de sábado, tem-se o Sol ser empatado, ser escondido pela lua em seu trânsito regular ao redor da Terra. Uma comparação boa, já que falei de trânsito, é o trânsito de Belém. Principalmente quando a gente tá na parada de ônibus, esperando aquele que nunca vem e quando vem, um outro corta a frente dele, o motorista do nosso ônibus não nos vê. Ficamos eclipsados. Às vezes até nos vê, mas finge ser empatado pelo outro ônibus, desvia, queima a parada e nos deixa na mão. Este tipo de eclipse que nos deixa no maior abandono acontece direto aqui em Belém comigo.

Bem comparado, volto ao eclipse de sábado.

Foi um espetáculo! Em alguns pontos deu até pra ver as beiradas doiradas do sol ardendo em plasma. Uma maravilha! Quem teve cuidado, usou equipamento adequado, valorizou a segurança, teve a oportunidade de presenciar um fato raro que vai demorar pacas pra acontecer de novo. Da mesma forma, rara foi a preparação. A maioria não se deu conta, comeu mosca e na hora agá, sequer a plaquinha de soldador indicada, tinha em casa para fazer a observação. Foi o meu caso. E olha que sou ligado nas paradas astronômicas. Na batida da campa, recorri aos meus ralos conhecimentos de Física e montei uma caixa escura. Com a projeção da imagem que consegui, me dei foi por satisfeito.

Entretanto, sei de reações enérgicas de descontentamento, frustração. E até atos desesperados de rebeldia como olhar diretamente para o clarão do sol ou mirar de palmo em cima, superfícies reflexivas. Atitudes reiteradas vezes reprovadas por especialistas. Tudo com a intenção de captar o melhor momento do eclipse.

Não pode esmorecer, nem se afobar do jeito de ficar com problemas de vista depois. O eclipse solar é belíssimo, já ensejou medos e mistérios, foi decifrado pela ciência e não é coisa de se passar batido. Só que para ficarmos de confronte ao anel de fogo, todo o acervo de equipamentos e suportes de segurança ainda é pouco. Se não tiver o aparato, paciência. Fica para a próxima. Ou nos demos por satisfeitos com o eclipse da Lua que é de noite e se aproxima. Não precisa de nada, a não ser a atenção do olhar e, se não é igual em beleza ao eclipse do Sol, é parecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário