Iniciais BP
Naquela
hora da foto, foi que dei que, com a novíssima integrante da nossa patota, a
minha netinha, estávamos ali na foto, três gerações da família.
Soma-se
aí uma pá de tempo brincando, acompanhando o cortejo do Arraial do Pavulagem e
fazendo a história vibrar ao longo dos anos. E é por essas e outras que para
nós, não é só um folguedo junino, numa manhã ensolarada de domingo. Como se diz
à hora, tem é muito sentimento envolvido. Por isso, quando o Marcelo Fernandes
pontuou o dedilhado efervescente introduzindo “Iniciais BP”, aquela que penso
ser a música símbolo do Arraial, as lágrimas brotaram fartas dos olhos de cada
um que formava o nosso grupinho. Todo mundo chorou. Menos a netinha que ainda
não percebeu essa fronteira emotiva que nos rege e ficou na dela, curtindo o
colorido dos chapéus riscando o azul do céu.
Disse
semana passada que os festejos de junho são muito ligados à família, a
lembranças boas. E com todos os detalhes, em especial, no Arrastão do
Pavulagem. Este ano, logo que saiu o cortejo, me separei do meu grupo, fui
ficando para trás. Queria ver os particulares daquela multidão. E que povaréu,
heim! E passa gente, e passa gente e o cortejo não acaba. Eu, a bom catar aqui,
ali, uma curiosidade, um conhecido lá no meião, um segmento temático... Até que
rareou o povo. E começou a leva de ambulantes. No final do cortejo, uma ruma,
mina de carrinhos, tabuleiros, geladeiras de isopor na cabeça, prancha de
doces, salgados, bombons, chope de frutas naturais e artificiais. Produtos para
todos os gostos e precisões. E aí me bateu na memória as nossas batalhas
próprias, lutas de alguns anos atrás. Encontrei uma amiga da Universidade, com o
filhinho. Duas gerações ali. Ela se aliou às minhas intempestivas reflexões
vendo aquele rio de ambulantes passar. Tempos atrás estava ela ali também. Fez
parte dos muitos grupos de universitários que juntavam um dinheirinho fazendo a
venda no Arrastão. Confirmou que se houve festa de formatura, se participaram
de congressos e viagens extras de campo, parte do recurso veio desses domingos
do mês de junho. Tirando por esse lado, o dedilhado do Marcelo na guitarra,
assina como litisconsorte, o diploma de muitos mestres e doutores por aí.
Emendei
que nem tão depois, foi a vez do meu filho. Fez a graduação, o mestrado, se
virando num troco bem vindo à época do Arraial. E me revelou, com aquela
iniciativa, um pouco da herança empreendedora da avó Luzia. Mamãe, não dava
ponto sem nó. Dava junho, ela desencadeava as estratégias para alcançar um
numerário extra. Havia uma inevitável correlação, quando ia se aproximando o
fim de semana e o menino se organizava na compra dos produtos, pacotes de água,
refrigerante, gelo... Providenciava o isopor. Eu me adiantava e chegava à praça
logo cedo. Pegava meu lugarzinho naquela sombra ao lado do anfiteatro, no mesmo
cantinho que o meu tio Tadeu, que com modos e termos, apreciava o show de longe.
Quando dava fé, lá varava meu menino carregando aquela caixa enorme. Se
ajeitava por ali e esperava a boa venda. Vai para o doutorado com a mesma
ajudazinha vinda do povo bom que acompanha o cortejo.
Cheguei
na Waldemar. Ainda ajudei, meia viagem, a empurrar uma cargueira. A lida tem
desafios! Minha amiga se despediu com o filhinho e procurou os seus. Juntei-me
ao grupo e contei das minhas abelhudices acompanhando os vendedores lá no rabo
do cortejo. Foi logo que resgatamos juntos outros momentos, pessoas que
estiveram com a gente e não mais estão. Meu amigo Cláudio Cardoso, Tia Churuca,
meu tio Tadeu... Aí a guitarra deu as iniciais, estrelas cintilantes desceram
sobre nós, fitas coloridas riscaram o céu... As lágrimas vieram. A netinha, na
dela, só fitando as fitas.
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