domingo, 18 de junho de 2023

crônica da semana- iniciais BP

 Iniciais BP

Naquela hora da foto, foi que dei que, com a novíssima integrante da nossa patota, a minha netinha, estávamos ali na foto, três gerações da família.

Soma-se aí uma pá de tempo brincando, acompanhando o cortejo do Arraial do Pavulagem e fazendo a história vibrar ao longo dos anos. E é por essas e outras que para nós, não é só um folguedo junino, numa manhã ensolarada de domingo. Como se diz à hora, tem é muito sentimento envolvido. Por isso, quando o Marcelo Fernandes pontuou o dedilhado efervescente introduzindo “Iniciais BP”, aquela que penso ser a música símbolo do Arraial, as lágrimas brotaram fartas dos olhos de cada um que formava o nosso grupinho. Todo mundo chorou. Menos a netinha que ainda não percebeu essa fronteira emotiva que nos rege e ficou na dela, curtindo o colorido dos chapéus riscando o azul do céu.

Disse semana passada que os festejos de junho são muito ligados à família, a lembranças boas. E com todos os detalhes, em especial, no Arrastão do Pavulagem. Este ano, logo que saiu o cortejo, me separei do meu grupo, fui ficando para trás. Queria ver os particulares daquela multidão. E que povaréu, heim! E passa gente, e passa gente e o cortejo não acaba. Eu, a bom catar aqui, ali, uma curiosidade, um conhecido lá no meião, um segmento temático... Até que rareou o povo. E começou a leva de ambulantes. No final do cortejo, uma ruma, mina de carrinhos, tabuleiros, geladeiras de isopor na cabeça, prancha de doces, salgados, bombons, chope de frutas naturais e artificiais. Produtos para todos os gostos e precisões. E aí me bateu na memória as nossas batalhas próprias, lutas de alguns anos atrás. Encontrei uma amiga da Universidade, com o filhinho. Duas gerações ali. Ela se aliou às minhas intempestivas reflexões vendo aquele rio de ambulantes passar. Tempos atrás estava ela ali também. Fez parte dos muitos grupos de universitários que juntavam um dinheirinho fazendo a venda no Arrastão. Confirmou que se houve festa de formatura, se participaram de congressos e viagens extras de campo, parte do recurso veio desses domingos do mês de junho. Tirando por esse lado, o dedilhado do Marcelo na guitarra, assina como litisconsorte, o diploma de muitos mestres e doutores por aí.

Emendei que nem tão depois, foi a vez do meu filho. Fez a graduação, o mestrado, se virando num troco bem vindo à época do Arraial. E me revelou, com aquela iniciativa, um pouco da herança empreendedora da avó Luzia. Mamãe, não dava ponto sem nó. Dava junho, ela desencadeava as estratégias para alcançar um numerário extra. Havia uma inevitável correlação, quando ia se aproximando o fim de semana e o menino se organizava na compra dos produtos, pacotes de água, refrigerante, gelo... Providenciava o isopor. Eu me adiantava e chegava à praça logo cedo. Pegava meu lugarzinho naquela sombra ao lado do anfiteatro, no mesmo cantinho que o meu tio Tadeu, que com modos e termos, apreciava o show de longe. Quando dava fé, lá varava meu menino carregando aquela caixa enorme. Se ajeitava por ali e esperava a boa venda. Vai para o doutorado com a mesma ajudazinha vinda do povo bom que acompanha o cortejo.

Cheguei na Waldemar. Ainda ajudei, meia viagem, a empurrar uma cargueira. A lida tem desafios! Minha amiga se despediu com o filhinho e procurou os seus. Juntei-me ao grupo e contei das minhas abelhudices acompanhando os vendedores lá no rabo do cortejo. Foi logo que resgatamos juntos outros momentos, pessoas que estiveram com a gente e não mais estão. Meu amigo Cláudio Cardoso, Tia Churuca, meu tio Tadeu... Aí a guitarra deu as iniciais, estrelas cintilantes desceram sobre nós, fitas coloridas riscaram o céu... As lágrimas vieram. A netinha, na dela, só fitando as fitas.

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