O glorioso Internacional da Mauriti
Daqui
a dois dias faz 17 anos que escrevo esta coluna. Como diz a galera, é uma cara
de tempo. Uma longevidade jamais pensada por mim. É, reconheço, uma marca que
contribui pacas para minha auto-estima. Não levava fé, há 17 anos, que pudesse
ter fôlego, assunto, ritmo, rimas e tantas prosas pra contar aqui numa escala
semanal. Se bater as contas direitinho dá uma penca pra mais de mil as minhas
participações literárias aqui no jornal contando, inclusive, os convites para
edições especiais que antecederam este encarreirado que se mantém desde 2006.
Nem mê nem donde de mim, querer classificar ou dar definição das coisinhas que
escrevo. Alerto, no entanto, que minha criação literária é para quem quer
abstrair, fazer um paralelo entre a realidade e a fantasia (que aqui passo a
chamar de mentirinha doce). É para quem quer tirar um pouco de água dessa vida
di rocha duríssima que vivemos a cada despertar dos dias. O que me vale são
estas mentirinhas doces que invento no meu cocuruto, dou um brilho no estilo,
rezo pra não machucar tanto a gramática e repasso para vós. Fiquemos certos que
é preciso entrar na brincadeira com o espírito leve, e o que tivermos de liberdade
e bondade no coração.
Dá-se
então que boas e fartas histórias que conto do glorioso, insuperável,
inquebrantável, indomável e incomparável Internacional da Mauriti não
representam os fatos reais, né. Digo até que, a existência de um time de rua
conhecido como o glorioso e etc... etc... Internacional da Mauriti, sequer posso
garantir ser possível de ter existido além do trançado pragmático das letras.
Todo sábado vos convido a dar um guiza, só na caté, na realidade (mais ou menos
da forma e do jeito que me encantou, certa vez no cinema, quando assisti a uma
versão do russo Alexander Sokurov para o clássico ‘Fausto’, em sessão matinal
no cine estação, em que as cenas eram todas tronchas, torcidas, distorcidas.
Onduladas e multidirecionais. Do jeito aquele que nos fazia duvidar dos
sentidos e do absoluto das causas e efeitos mundanos).
É
por isso que vez por outra, o Pé-de-galho aparece pela lateral do glorioso e
etc...etc... Internacional da Mauriti, apavorando as defesas adversárias e em
outras vezes, de público confesso que um menino de tal talento conhecido no
meio da petizada por nome Pé-de-galho, jamais deu o ar da graça nos campinhos
do bairro ou mesmo nas partidas de travinhas que realizávamos nas calçadas da
Mauriti. Aí vai do dia e da vez ele ser ou ele não ser.
Pelo
que torna e pelo que deixa, quero colo e parceria de quem sabe brincar e não
levar as prosas no curto e certo, como aconteceu semana passada. Em uma jogada
de conversa fora ali nos corres do dia, comentei entre uns parças de trabalho,
das minhas conquistas como centro-avante do Internacional da Mauriti. Pra quê.
Fui bulinado do io ao chio. Na geral o juízo era que, com um metro e meio,
baixolinha, eu não dava nem um caldo no comando do ataque. E me vi diante de um
fogo alto de avacalhação com minhas posses. Penso cá comigo, que quando faço
esse tipo de afirmação desejo mais estimular a volta em histórias afins, que ensejar
trancos e ataques. Não sabem brincar os caras. Provavelmente nunca viajaram num
livro ou sequer preservam o prestígio às artes tronchas reveladoras de nossos
males escondidos. Também não admitem a possibilidade de o Internacional da
Mauriti ter sido um time sem preconceito, inclusivo, que aceitava um baixolinha
no comando do ataque e um garoto de pernas tortas assombrando nas laterais.
Daqui
a dois dias faz 17 anos que me bato nas estratégias e no jeito de prosear e,
mais ainda, na lida de tirar uma aguinha dessa vida, di rocha, duríssima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário