Meu divino São José
O
pai de Jesus entrou na minha vida em alguns momentos de extrema importância.
Vou lembrando e vou contando. De prima, ele me vem em amplitude regional. Certa
vez em uma reuniãozinha depois do expediente, traçando uns drinques com tira-gosto
de charque frito, o topógrafo que trabalhava comigo e que era de Natal,
esperançou: se, no dia 19 de março chove, é sinal que o ano vai ser bom. De
água e fartura no Nordeste. Desde lá, mesmo que não esteja no Nordeste, olho
pro céu e fico na bicora. Se chove aqui, somo na fé. Ele me contou da esperança,
em Macapá. E foi lá em Macapá que tive um encontro pra lá de precisado com o
bom santo. Depois de quase um ano na pira, desempregado, sem grana e já quase
pra correr doido, consegui um emprego no Amapá para fazer a única coisa que,
profissionalmente, e o que me vale até hoje, sei fazer. Atuar na
mineração. Desembarquei em Macapá
exatamente, e agora digue lá se não parece uma coisa, no dia de São José, que
inclusive, é padroeiro da cidade. Antes de entrar pra mina, fizemos um roteiro pela
cidade e passamos pelo centro. Tinha arraial, missa, comemorações, e
declarações de fé. Foi impactante pra mim. Chegava ali, por uma forcinha do
santo, pensei. Olho lacrimejou e agradeci. Dias depois, estávamos eu e o
topógrafo contabilizando bênçãos. Eu empregado e a chuva abundante no Nordeste.
Estas
boas novas e também a presença sentida do santo carpinteiro, ora veja,
ocorreram exato no tempo em que eu me considerava um ser descrente de tudo e,
mais ainda das histórias contadas pelas religiões. Um período impensadamente
ateu para quem, durante muito tempo foi igrejeiro salesiano. E aí vem o tempo
depois...
Um
tempo depois, estava eu na batalha pela vida em Barcarena. Sindicalista,
classista, de modos e condutas extremados. Valores que nos levaram a conflitos
épicos com a estrutura empresarial da hora. Num deles, para pressionar uma
negociação, saímos do casulo classista e nos votamos à comunidade. Fazia anos
que eu não entrava numa igreja. Articulamos uma missa que unia o operariado e
as comunidades carentes. A simbologia era que mesmo com perdas salariais, ainda
podíamos doar. Na missa recolheríamos cestas básicas para as entidades da
região. A celebração se deu, adivinhem... Na paróquia de São José, que fica na
Vila dos Cabanos. Mais uma vez tive o encontro com o santo operário.
Agora
neste março, volto ao divino São José para renovar nossa amizade e para pedir
que nos valha:
Santo
pai dos operários, em teus pés me reduzo em alma e obra. E rogo a ti. Me ampara
nas fraquezas, me livra do mítico e desprovido empreendedorismo, do foco certo
e cego. Fazei que minhas habilidades ponham cumê na minha mesa, e tantas
qualificações me apontem o futuro. Livra-me, meu bom carpinteiro, das
marteladas sazonais do desemprego, das ilusões multicores do capitalismo, da negação
de classe, do abraço ofídico do chão de fábrica e das especulações do mercado.
Dá-me reconhecer a mais-valia e deposita em minhas mãos os meios de produção
para que eu não me sinta possuidor de um poder sem senso. Rogo ainda, pelos
meus companheiros que se ombreiam em lutas intermináveis, cuida para que um
sorriso sempre brote no meu rosto sofrido, de forma tal que minha vida não seja
vã. Vela pelas criancinhas, para que desapareçam das esquinas, pelos pedintes,
e pelos sem contrato de trabalho. Dê-nos dignidade e ordenado no fim do mês que
possam prover nossa família de direitos básicos. E no fim de minha prece, nos
dê Jesus, filho de operário, em todos os dias de nossa vida, sem faltar um só,
ao nosso lado, para que a lida seja santa. Sob a atenção dadivosa da Virgem
Maria, te peço.
Amanhã vou olhar pro céu. Amém!
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