Meu inglês é frakinho
Jovens
que conheci na universidade, bem dizer dia desses, já estão completando 40
anos. Éraste! O tempo...
Deixa
estar que, sábado próximo passado, fui convidado, por uma querida amiga herdada
desses tempos, para a comemoração desta nova fase na rima dos ‘enta’, com
aquela continha se realizando na cabeça... Quando estudava, criei amizade com a
turma de 18, 20 anos, e eu já era quarentão... Daí, mais uns bons vinte anos se
passaram (para ambos os lados)...
No
ritual da festa, discursos, emoções, agradecimentos. Bufê e na sequência, a
banda mandou ver iniciando logo com o som do Pussicaty, ‘Smile’, ‘Mississipi’,
depois emendou com o Abba, Bee Gees e éramos todos da mesma geração nait’fiver.
Fiquei ligadaço.
O
detalhe é que a maioria das músicas que marcaram as afetividades passadas foram
selecionadas em inglês. Era o que sinalizava a playlist-saudade, misturando
inclusive várias etapas e ritmos da música estrangeira. E o programa da banda
calhou certinho no gosto dos convidados. Afinal são canções que varam gerações
de um lado a outro.
Faço
um paralelo quando na época de estudante, encarava rolês com os jovens. Certa ocasião,
bancamos a missão de frequentar um bar que tocava só Beatles. A garotada
cantava todas. Dominava a pronúncia e a articulação fonética do bom inglês.
Reaprendi a gostar dos rapazes de Liverpool com essas baladas temáticas. Só não
aprendi um isso aqui das músicas no original. Meu inglês é fraquinho. A
petizada tinha que exercitar a tolerância. Eu era aceito no grupo mesmo sendo
coroa, aluno universitário temporão. E ainda tinham que relevar o meu completo
apartamento na hora dos coros entusiasmados de ‘Help’ ou do recitado quase rap,
da bela Blackbird, quando nos envolvíamos com tudo no som dos Beatles. Apesar
d’eu ter uma boa média de acertos e me virar satisfatoriamente num errezinho nas
aulas de Inglês Instrumental, na fala, não me garantia não.
Eu
os admirava. Curtia pacas aquela geração valorizando os iês iês iês lá dos anos
60. Ficava meio acabrunhado, ensimesmado, sentia uma vergonhinha porque não
conseguia acompanhar a galera nos coros, por falta de um acervo eficiente de
palavras ou memória compatível para decorar as letras em inglês. Dei de me
fazer cobranças e me imputar carões. Por que não estudava mais, não procurava
jeito de dominar o idioma apenas para não me sentir daquele jeito, deslocado da
turminha? Com o tempo desencanei ao reconhecer que tenho acervo, mas me falta
memória para cantar ou acompanhar refrões até de músicas em português... inclusas
as minhas músicas e poesias, que não raro me fogem, quando as procuro para uma
palinha ao violão ou uma recitação nos saraus. Tenho as evidências aqui em
casa, nas eventuais audições domésticas: “éraste, o papai não sabe a letra de
nenhuma música inteira, e as poesias, então, não decora nem aquelas, curtinhas
dele”.
Devo
adiantar que não é falta de memória, ou índice de alguma patologia. Muito menos
desleixo, descuido com as vastas e caras obras. É que são muitas as informações
no cocuruto e, de fato, não tenho o dom de guardá-las todas. Acho que dediquei
toda a minha capacidade de armazenamento para decorar a tabuada, lá nas aulas
da professora Lurdes, pelos idos de chumbo dos anos setenta, sob a mira
ameaçadora da palmatória.
O
que vale é o prazer do som. Se a gente não sabe a letra de cor, seja no inglês,
seja no português, vamos de nã nã nã, e na palminha. Curti pacas a festa dos
quarenta anos animada pelas canções que atravessam as eras. Éramos todos
blackbirds nait’fiveres nos embalos daquele sábado.
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