O pequeno lago
A história do pequeno lago não tem origem em nenhum sonho profético.
Porém, tem o mesmo final. Saímos da lama.
Nesta quadra de aniversário de Belém, tento ressaltar os poucos avanços
que tivemos em ações contra alagamentos. Meu bairro ainda sofre com as chuvas,
mas já esteve bem mais de bubuia.
Sábado passado falei sobre aquela região destacada como o grande lago,
encravada entre a Everdosa e a Senador Lemos e que por não ser trajeto comum no
meu dia-a-dia, naqueles tempos molhados, me causou surpresa assim de palmo em
cima. O diferencial era a grande quantidade de água se estendendo ao longe.
Na minha rotina, não havia surpresa. Era caminho batidinho por mim pra
tudo em quanto e estava canso de varar de um lado pro outro, o estirão enxombrado
da Pedro Miranda, e sair no seco com a perna minada de chamichuga. Esse meu
pedaço mais íntimo era diferente do outro lago porque só ganhava volume e se
espraiava pelas beiradas, no inverno. Na maior parte dos meses do ano a área
era tomada apenas pelo igapó úmido, formando um canal com água abundante
somente em trecho restrito, pouco antes da Escola Salesiana. Este desconto
sazonal nos dava oportunidade de elaborar caminhos, depender pouco das estivas,
e ainda montar várias ilhas pra jogar futebol com a serragem que a gente carregava
dos estabelecimentos do bairro. No inverno não, no inverno enchia tudo mesmo e
nossos campinhos submergiam.
Eu acompanhei pelo menos três projetos que visavam dar fim ao pequeno
lago que era a Pedro Miranda e os igapós que dominavam as passagens nas
adjacências. O último foi o da macrodrenagem do Una. Há ressalvas sobre a
amplitude da eficácia desse projeto, mas aqui pras bandas da Escola Salesiana,
hoje em dia, não enche mais não.
Antes da Pedro Miranda segurar o asfalto, porém, dei um tibêi na lama.
Foi ali pelo início dos anos 80. Época de despertares, primeiros
encontros com o violão, com as versões emergentes de arte e política.
Naquele contexto, eu tinha uma referência. Companheiro um pouco mais
velho que os outros da turma, contando com vivências ricas naquele mundo de
democracia se redesenhando no Brasil. Alberdan era um exemplo de um novo
alvorecer para nossa galerinha. Militante sindical, ativista político, havia
marcado presença na evolução do teatro nos limites e nas concessões da pastoral
Salesiana. Inesquecível o dia em que o vi em cima de um carro som cantando
“Apesar de Você”, em meio a um cerco policial que impedia um protesto de
estudantes na frente do palácio do governo. Quis ser amigo dele. Refinei
contato.
Tamanha admiração me levou a fazer uma homenagem ao Alberdan. Juntei uns
pequenos, fizemos uma coleta, providenciamos o de comer, o de beber e
combinamos um sarau na casa dele. Lá pra de noitinha, pela aquela horinha,
resolvemos cortar caminho pela passagem H, que era um segmento pantanoso
cortado por estivas. No meio da caminhada patetei. A ponte dobrava e eu passei
direto. Enterrei até aqui na lama.
A parte mais caudalosa do igapó ficava além dali. Sobrou pra mim o charco
pastoso, lodoso e mal cheiroso, que me prendeu a modo daquela lama gulosa que
aparecia nos filmes do Tarzan. Meus amigos me puxaram e me resgataram do socado
em que estava. O sarau e o encontro com meu amigo Alberdan foram adiados.
Muitos dias nos vimos mais tarde, já depois da realização da
macrodrenagem da bacia do Una. Mas nos estamos devendo ainda um sarauzinho.
Olá, meu amigo e companheiro. Sou grato pela homenagem nesta crônica que acabei de ler. Fico contente em saber que minha vida e atuação nos movimentos sociais, te influenciaram de maneira positiva. Só os todos resultado de nossas escolhas e eu me orgulho muito de ter feito as escolhas que fiz. Hoje, como naquele tempo, ainda é preciso resistir e nós continuamos sendo resistência. Abraços, meu companheiro.
ResponderExcluirOlá, meu amigo e companheiro. Sou grato pela homenagem nesta crônica que acabei de ler. Fico contente em saber que minha vida e atuação nos movimentos sociais, te influenciaram de maneira positiva. Só os todos resultado de nossas escolhas e eu me orgulho muito de ter feito as escolhas que fiz. Hoje, como naquele tempo, ainda é preciso resistir e nós continuamos sendo resistência. Abraços, meu companheiro.
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