sábado, 26 de dezembro de 2020

crônica da semana - vacina

 Uma pinicada no braço de presente

O Natal sempre teve como alvo as crianças, e também, conte-se que este público demanda uma tomada de decisão mais fácil e concreta: para as crianças, brinquedo. Palpável, de verdade o suficiente para permitir a alegria e o imenso folguedo da petizada na manhã do dia 25.

Para os adultos a técnica já desvia para o abstrato. Desejamos felicidade, alegria, realizações. Que papai do céu entregue na janelinha do coração da gente, um tiquinho assim de paz.

Isso antes de 2020.

Porque neste Natal, crianças, adultos, nós os velhinhos, o que esperamos mesmo de presente é a materialidade de uma seringa pinicando no braço a vacina que vai nos proteger do Coronavírus.

É o meu maior desejo para este Natal.

Vacina para todo mundo. Entendo que neste caso, o coletivo ascende ao individual e não tem esse negócio de ‘não vou tomar vacina’, não. É absolutamente necessária, para combater o vírus, uma proliferação de seres humanos imunes. E libertos do preconceito, do negacionismo, da intolerância, da ignorância e do desprezo pelo compromisso com o outro.

Não baste este meu entendimento em favor da vacina, há outro bem mais persuasivo, dirigido aos incrédulos. Sem vacina, difícil a vida que segue.

Quem não se habilita tomar a vacina pode morrer, e também, pode matar alguém de Covid. Em quaisquer das situações, ‘a vida vai ser severamente impactada’.

Outras tentativas de persuasão: chance nenhuma tem, caso esteja pensando num rolé, de viajar para o exterior; pretenda, por algum talento, conseguir emprego, não vai passar na seleção; usufruir das ações de políticas públicas, penso que vai ser muito difícil. Matrícula em qualquer curso regular será, por certo, negada sem o comprovante da vacina.

É só um alerta, e asseguro, não é oportunista, gratuito ou obra de alguma sutileza política. Dou a dica porque já passei por todas as situações que citei acima, e em todas elas, para que conseguisse sucesso, tive que apresentar minha carteirinha.

Tem até um causo sobre a vacina contra a febre amarela. Aliás, sem esse comprovante, nem saia de casa. Nas viagens que fiz a trabalho e a passeio para o exterior, era logo avisado da atualização. Houve um ano, que fiquei blefado, sem grana, sem emprego, sem rumo. Quando meu currículo foi aceito por uma empresa do Amazonas, corri para a rodoviária, para atualizar a dose da antiamarílica. A aplicação era na pistola. Quando o agente apertava o gatilho, não tinha bom. O camarada arriava na hora. Doía pra dedéu. Peguei meu cartão e guardei bem guardadinho. Era documento exigido para meu novo emprego.

Acontece que guardei bem guardadinho, mas tão bem guardadinho, que quando cheguei à portaria da empresa (era comprovante que pediam na portaria. Não podíamos nem entrar para os finalmentes documentais se não tivéssemos o cartão em mãos), tão guardadinho estava que virei, mexi na minha mala, e não achei o bendito. Risco sério de perder minha vaga. Liga pra cá, liga pra lá, embora eu jurasse de pé junto que havia me vacinado, não aceitaram minha palavra. Fui encaminhado a um posto de saúde em Manaus para tomar outra dose. Resultado: arriei de novo. A bicha doía pra dedéu. Depois desse sufoco, tenho mantido atualizada minha carteirinha. Às vezes, guardo bem guardada e perco de novo. Vou ao posto e renovo. Não é mais na pistola.

Meu desejo, de coração, neste Natal é de concretude. Ações efetivas pela saúde. Vacina para todos.

 

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