Aurora
Vou dar a letra
no justo e certo: no início desta pandemia, entreguei os pontos, me encolhi no
canto, ‘aconsoado’, e julguei ser aquele início, o meu fim.
Passados seis
meses, sustos, lágrimas muitas, medos, pirações, esperanças sufocadas, decepções
com a humanidade e incertezas de montão, cá estou, como diria minha mãe,
suspirando. No ritmo indicado à manutenção da vida, com a saturação de
oxigênio, ó, lá em cima.
Esse sentimento
de expiração inevitável teve suas justificativas, afinal, no pico da pandemia
no Brasil, quando me vi diante da ameaça de um vírus letal grassando e se
valendo de nossas obsequiosas licenças; no momento em que me peguei abismado
com a imagem de um presidente usando máscara na orelha como se estimulando a
população a praticar o auto-extermínio; na hora que me bati nas nuances do home
office e fui contemplado compulsoriamente com as gasguitagens do Arrocha e abençoado pelos louvores
gritados a plenos pulmões; quando quedado e humilhado pelo vírus, pela falta de
governo e pela poluição sonora, pensei cá comigo: não tem escapatória. O fim é
chegado. Dei adeus a este mundo cruel. Emagreci. Perdi a barriga de jogador de
porrinha e dormi um sono resignado. Foi aí que sonhei com a Aurora.
Nada é muito
certo nesse mundo. Mas taí, se eu varar, se alcançar a vacina, a meta a ser
buscada é conhecer, ver de palmo em cima, a Aurora Polar.
(E atenção, tudo
o que for dito a partir daqui, só terá serventia para quem acredita na lição de
Geografia lá da quinta séria, que dizia a Terra, ser redonda e achatada nos
pólos. Se não considera essa afirmação, pode desembarcar e mergulhar nas
sombras do fim do mundo que distam um nadinha assim dos abismos pavoroso da terra
plana).
Aurora, sabemos,
é nome próprio, de irmãzinhas que chegam e nos alegram. Está presente em
marchinha de carnaval, em samba de breque, e na mitologia romana. É um evento
temporal, também. Em nossos dias comuns, tem o sentido do amanhecer, do nascer
do sol ou o início da lida.
Das polares, a
mais conhecida é a Aurora Boreal. Aí já vem com sobrenome. Boreal é uma alusão
ao Titã Bóreas, citado na mitologia grega e que comandava os ventos do norte. Mas
a Aurora também ocorre no sul do planeta e por essas bandas é conhecida como
Aurora Austral. O adjetivo austral já não tem entidade grega ou romana que o
inspire, mas lembra da mesma forma, vento. O vento do sul.
A mais famosa
das Auroras polares é a boreal. Por um motivo simples. Pode ser vista em
regiões, mesmo que acanhadamente, habitadas. Ocorre nas altas latitudes, nos
longes e frios. Ambientes onde não são comuns, as aglomerações urbanas. Do
outro lado, no sul do planeta, a Antártida é pouco simpática às gentes e
coisas.
Os lugares de
melhor visibilidade são aqueles localizados na região do (Terra redonda e achatada
nos pólos, heim, gente!) Círculo Polar. É um fenômeno que produz no céu, luzes verdes,
vermelhas, azuis e em ondulações, como se fosse uma dança leve e suave de
tonalidades. Tem origem na interação do vento solar com as linhas de força do
campo magnético da Terra.
Eu, vendo as
imagens, os registros dos viajantes que se lançam àqueles longes, fico
fascinado. É arte da natureza que merece todos os esforços para ser contemplada
(vencer o vírus conta).
A Aurora Boreal
acende em mim a esperança, credencia a possibilidade de, ainda em meio à
pandemia e às incertezas, nutrir um objetivo futuro. Pensar metas, ter expectativas.
Enquanto
suspiro, esperança há.
Em cada crônica uma lição de vida e acadêmica.
ResponderExcluirGostei da menção à "Orora" do Ivan...jijiji
Nossa fascinante obrigada Sodré e que logo logo você veja a Aurora de pertinho
ResponderExcluirNossa fascinante obrigada Sodré e que logo logo você veja a Aurora de pertinho
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