sábado, 8 de setembro de 2018

crônica da semana- Museu Nacional


Passeio completo
O Rio de Janeiro continua lindo. Quem viaja pra lá, já vai todo na combina de conhecer os encantos da cidade maravilhosa. O visitante fica tão encegueirado pelas fartas paisagens e fantasias que não percebe detalhes ao rés do chão. Passa batido na rica história das almas e do solo onde pisa. Uma temporada no Rio é, pelo comum, montada sobre um oba-oba clássico e plenamente justificado.
Aconteceu comigo da primeira vez que fui pra lá.
Até o momento em que fui estimulado a variar. Um casal muito simpático se aproximou do nosso grupo, na Cinelândia, atraído pela camisa do Paysandu que eu estava usando. Gentis, puxaram conversa e falaram de uma temporada que passaram em Belém. Depois das trocas de gentilezas e empatias (o Paysandu), nos convidaram para dois passeios fora do script. Um era para o Centro de Tradições Nordestinas; o outro foi para conhecer o Museu Nacional. Marcamos para a noite o forró em São Cristóvão e o Museu para o dia seguinte. Ninguém escapa impune a uma buchada de bode. Daí que afrontados, no outro dia, ficamos devendo o Museu.
Aí, passou, passou, e numa outra oportunidade, fuçamos promoções de passagens, o tempo era bom pra pobre viajar, podíamos levar mala grande. Fomos bater no Rio de novo. Demos a forra. Fizemos tudo diferente. A única agenda que permaneceu a mesma foi a da Lapa. O resto foi tudo novidade. Conhecemos a outra face do Rio de Janeiro. Um dia muito especial se deu na visita aos vários museus da cidade. Foi quando conhecemos o Museu Nacional.
Já éramos apresentados assim, de longe, eu e o Museu. Durante o 45º Congresso Brasileiro de Geologia realizado em Belém, no ano de 2010, era presença constante no estande da instituição. Na oportunidade, ganhei um souvenir representando o maior meteorito encontrado no Brasil, o Bendegó, que foi resgatado por D. Pedro II e fazia parte do acervo de Ciências Naturais.
Minha linha de interesse se deu por aí. Dessa vez, quando fui ao Rio, não furei o script, procurei o Museu por causa do meteorito.
Mas o Museu era muito mais. Um ambiente fascinante, de incontáveis saberes. Durante a minha permanência lá, percebi que o Museu recebia muitos estudantes das escolas públicas para visitas monitoradas.
Encontrei com uma turma na sala dos dinossauros. Era indisfarçável o encanto da meninada ao se deparar com os fósseis gigantes. O instrutor, numa sacada genial, reservou uma surpresa. Após apresentar as espécies montadas à nossa frente, pediu que fechássemos os olhos e erguêssemos a cabeça. Quando mandou abrir, nos vimos sendo observados por um enorme Pterodáctilo (o esqueleto do réptil voador estava montado no teto). Um dos garotos exclamou: “puxa vida! Por que não vi isso antiins” (e tento, na escrita, reproduzir a fonética nervosa e ao mesmo tempo deslumbrada do garoto. Porque é assim que o prazer do conhecimento se realiza na gente. Chacoalhando a alma, subvertendo os sons ordinários, transcendendo a monotonia vil do obscurantismo. E faço uso dela, desta fonética nervosa, também, para expressar tristeza e indignação: por que não cuidamos do Museu Nacional antiins!


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