Passeio
completo
O
Rio de Janeiro continua lindo. Quem viaja pra lá, já vai todo na combina de
conhecer os encantos da cidade maravilhosa. O visitante fica tão encegueirado
pelas fartas paisagens e fantasias que não percebe detalhes ao rés do chão.
Passa batido na rica história das almas e do solo onde pisa. Uma temporada no
Rio é, pelo comum, montada sobre um oba-oba clássico e plenamente justificado.
Aconteceu
comigo da primeira vez que fui pra lá.
Até
o momento em que fui estimulado a variar. Um casal muito simpático se aproximou
do nosso grupo, na Cinelândia, atraído pela camisa do Paysandu que eu estava
usando. Gentis, puxaram conversa e falaram de uma temporada que passaram em
Belém. Depois das trocas de gentilezas e empatias (o Paysandu), nos convidaram
para dois passeios fora do script. Um era para o Centro de Tradições
Nordestinas; o outro foi para conhecer o Museu Nacional. Marcamos para a noite
o forró em São Cristóvão e o Museu para o dia seguinte. Ninguém escapa impune a
uma buchada de bode. Daí que afrontados, no outro dia, ficamos devendo o Museu.
Aí,
passou, passou, e numa outra oportunidade, fuçamos promoções de passagens, o
tempo era bom pra pobre viajar, podíamos levar mala grande. Fomos bater no Rio
de novo. Demos a forra. Fizemos tudo diferente. A única agenda que permaneceu a
mesma foi a da Lapa. O resto foi tudo novidade. Conhecemos a outra face do Rio
de Janeiro. Um dia muito especial se deu na visita aos vários museus da cidade.
Foi quando conhecemos o Museu Nacional.
Já
éramos apresentados assim, de longe, eu e o Museu. Durante o 45º Congresso
Brasileiro de Geologia realizado em Belém, no ano de 2010, era presença
constante no estande da instituição. Na oportunidade, ganhei um souvenir representando
o maior meteorito encontrado no Brasil, o Bendegó, que foi resgatado por D.
Pedro II e fazia parte do acervo de Ciências Naturais.
Minha
linha de interesse se deu por aí. Dessa vez, quando fui ao Rio, não furei o
script, procurei o Museu por causa do meteorito.
Mas
o Museu era muito mais. Um ambiente fascinante, de incontáveis saberes. Durante
a minha permanência lá, percebi que o Museu recebia muitos estudantes das
escolas públicas para visitas monitoradas.
Encontrei
com uma turma na sala dos dinossauros. Era indisfarçável o encanto da meninada
ao se deparar com os fósseis gigantes. O instrutor, numa sacada genial,
reservou uma surpresa. Após apresentar as espécies montadas à nossa frente,
pediu que fechássemos os olhos e erguêssemos a cabeça. Quando mandou abrir, nos
vimos sendo observados por um enorme Pterodáctilo (o esqueleto do réptil voador
estava montado no teto). Um dos garotos exclamou: “puxa vida! Por que não vi
isso antiins” (e tento, na escrita, reproduzir a fonética nervosa e ao mesmo tempo
deslumbrada do garoto. Porque é assim que o prazer do conhecimento se realiza
na gente. Chacoalhando a alma, subvertendo os sons ordinários, transcendendo a
monotonia vil do obscurantismo. E faço uso dela, desta fonética nervosa, também,
para expressar tristeza e indignação: por que não cuidamos do Museu Nacional
antiins!
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