sábado, 11 de agosto de 2018

crônica da semana - tirolesa


A Tirolesa e a sexta treze
A única coisa que eu pensava naquele instante letárgico em que o instrutor me atava ao cinto de segurança e este às roldanas sobre o cabo de aço, era que aquela, caprichosa e ironicamente, era uma sexta-feira treze. Além, postada sobre o mirante e protegida da imensidão do canyon por uma mureta compacta de madeira, minha mulher atiçava, dava a maior corda, sugeria que eu soltasse as mãos quando estivesse no meio do trajeto. Ela estaria ali para filmar tudo. Um pensamento rápido buscou em tempos recentes, alguma conversa que tivemos sobre seguro de vida, pecúlio medido e aferido, ou outras prevenções para o incerto futuro. Nada fluiu da memória, e, claro que não se tratava de sutilezas vis ou pés de cá t’espera regados para brotarem mais acolá. Ela só queria mesmo era documentar a aventura. Sem ligar para o treze da sexta, bem mais animada que eu estava. Tanto que som de euforia que se ouviu na hora que o instrutor me largou ao abismo, foi emitido por ela. Iurhuuuu! Eu, em silêncio mergulhei no vazio, e em silêncio boiei lá do outro lado. Tomado por indisfarçável azuorotismo. Teso e pálido.
Não sou dessas artes não. Tenho contadas nos dedos as vezes que me aventurei em brinquedos de parque de diversões. A minha ousadia maior se perde no tempo e em lances ralinhos. Tem aquela em um parque montado lá do outro lado da Mauriti, de confronte à sede da Embaixada de Samba Império Pedreirense. A molecada da rua atravessava as três pistas da Pedro Miranda e ia bater lá. Arrumava uns trocados e se aventurava no dang. E na versão radical. Íamos sempre em dupla. O de trás segurava a cadeirinha do que estava na frente, e quando o conjunto ganhava velocidade, o moleque que estava na frente era empurrado, com  toda a força para além da trajetória prevista para o brinquedo. Isso aumentava e muito o raio de deslocamento e a inclinação da cadeirinha. Maior adrenalina! Depois a gente trocava. O dono do parque ficava pê da vida, dava bronca, falava que a gente ainda ia se esborrachar no chão, mas sempre se acalmava e abria a guarda, afinal, era uma grana certa que entrava todo dia. A gente vendia garrafas, peças e fios de cobre, bacias velhas; fazia carretos, mandados, levava e trazia recados, varria o salão do Cine Paraíso, arranjava uma pelada com a turma da Marquês valendo uma ponta, se batia e se virava pra arrumar o numerário, só para estourar tudo no dang, nas primeiras rodadas da noite.
Outra peripécia que eu me lembre, foi na única roda gigante que andei na vida. Uma roda doce. Pequenina. De bebê. Era no Arraial Flor do Maracujá, festa junina que acontece, no mais graduado estilo, em Porto Velho. Fomos eu e minha priminha de lá. Noite fria de junho, um estranhamento, sei lá, mal’impressão. E não é que faltou energia e ficamos presos lá no cocuruto da bicha. Descemos graças ao acionamento manual. E pra nunca mais subir de novo.
Quando o rapaz me soltou no desfiladeiro, segurei a corda com toda força que tinha. Ouvi um grito ao longe: Iurhuuuu! E a sugestão para largar a mão. Larguei nada. Era sexta treze.

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