A Tirolesa
e a sexta treze
A
única coisa que eu pensava naquele instante letárgico em que o instrutor me
atava ao cinto de segurança e este às roldanas sobre o cabo de aço, era que
aquela, caprichosa e ironicamente, era uma sexta-feira treze. Além, postada
sobre o mirante e protegida da imensidão do canyon
por uma mureta compacta de madeira, minha mulher atiçava, dava a maior corda, sugeria
que eu soltasse as mãos quando estivesse no meio do trajeto. Ela estaria ali
para filmar tudo. Um pensamento rápido buscou em tempos recentes, alguma
conversa que tivemos sobre seguro de vida, pecúlio medido e aferido, ou outras
prevenções para o incerto futuro. Nada fluiu da memória, e, claro que não se
tratava de sutilezas vis ou pés de cá t’espera regados para brotarem mais acolá.
Ela só queria mesmo era documentar a aventura. Sem ligar para o treze da sexta,
bem mais animada que eu estava. Tanto que som de euforia que se ouviu na hora
que o instrutor me largou ao abismo, foi emitido por ela. Iurhuuuu! Eu, em
silêncio mergulhei no vazio, e em silêncio boiei lá do outro lado. Tomado por
indisfarçável azuorotismo. Teso e pálido.
Não
sou dessas artes não. Tenho contadas nos dedos as vezes que me aventurei em
brinquedos de parque de diversões. A minha ousadia maior se perde no tempo e em
lances ralinhos. Tem aquela em um parque montado lá do outro lado da Mauriti,
de confronte à sede da Embaixada de Samba Império Pedreirense. A molecada da
rua atravessava as três pistas da Pedro Miranda e ia bater lá. Arrumava uns trocados
e se aventurava no dang. E na versão radical. Íamos sempre em dupla. O de trás
segurava a cadeirinha do que estava na frente, e quando o conjunto ganhava
velocidade, o moleque que estava na frente era empurrado, com toda a força para além da trajetória prevista
para o brinquedo. Isso aumentava e muito o raio de deslocamento e a inclinação da
cadeirinha. Maior adrenalina! Depois a gente trocava. O dono do parque ficava
pê da vida, dava bronca, falava que a gente ainda ia se esborrachar no chão,
mas sempre se acalmava e abria a guarda, afinal, era uma grana certa que
entrava todo dia. A gente vendia garrafas, peças e fios de cobre, bacias
velhas; fazia carretos, mandados, levava e trazia recados, varria o salão do Cine
Paraíso, arranjava uma pelada com a turma da Marquês valendo uma ponta, se
batia e se virava pra arrumar o numerário, só para estourar tudo no dang, nas
primeiras rodadas da noite.
Outra
peripécia que eu me lembre, foi na única roda gigante que andei na vida. Uma
roda doce. Pequenina. De bebê. Era no Arraial Flor do Maracujá, festa junina
que acontece, no mais graduado estilo, em Porto Velho. Fomos eu e minha priminha
de lá. Noite fria de junho, um estranhamento, sei lá, mal’impressão. E não é
que faltou energia e ficamos presos lá no cocuruto da bicha. Descemos graças ao
acionamento manual. E pra nunca mais subir de novo.
Quando
o rapaz me soltou no desfiladeiro, segurei a corda com toda força que tinha.
Ouvi um grito ao longe: Iurhuuuu! E a sugestão para largar a mão. Larguei nada.
Era sexta treze.
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