Grandezas
e pequenezas
Éraste!
Estava com uma idéia na ponta dos dedos, para a crônica da semana passada, mas
quando comecei a digitar a maré mudou e saiu uma história diversa daquela
pensada no início.
Queria
me retratar sobre um furo daqueles, ó, que cometi no meu último livro. Um erro
(até perdoável), mas, não isento de uma autocrítica. Um deslize que veio
varando, se arrastando ao longo dos tempos e das mídias.
Tirando
um pelo outro, o texto para o livro deveria estar todo nos conformes. Por isso,
antes de mandar rodar, faço correções. Contrato gente, peço para parentes
próximos capricharem na leitura. Passar um pente fino. A missão é garimpar
desvios na grafia, na acentuação, na separação silábica, essas coisas, que
derrubam a gente de quando em vez.
E
não é que dia desses, depois do caso passado e repassado, meu amigo César
Corecha, na viagem para Barcarena, lendo “Janeiros”, meu mais recente
lançamento, veio comigo checar uma notação que fiz na página 46. A passagem
relata a minha estatura (o dito erro). Deveria dizer que tenho um metro e cinquenta
de altura, mas como não se trata de papeleta de exame biométrico, resolvi
provocar o leitor fornecendo a informação em outra escala de grandeza (no meu
caso, de pequeneza), não exatamente aquela do uso comum.
Corri
a vírgula para a direita de 1,50m, o que significa multiplicar a grandeza por
10, e busquei uma notação em decímetro, que acho, ninguém, em momento nenhum da
vida ousou usar (era uma crônica, certo? E crônica não é necessariamente a
lógica curta e pronta. Um floreado, cai bem). Usamos metro, centímetros,
milímetros, mas, decímetros, não temos o costume (temos padrões. Alguém de vós
já se referiu a uma distância em hectômetro ou a uma medida em hectolitro? Uma
famosa miss já perdeu o título mundial por causa de seus 0,00005 quilômetros a
mais de cintura? Ou um corredor já percorreu 42 milhões e 197 mil milímetros de
uma maratona?).
Disse,
no texto, que minha altura era 150 milímetros. Errei feio. 150 milímetros não é
a mesma coisa que um metro e meio. Bem feito, quem mandou florear sem o devido
cuidado. O certo seria 15 decímetros. Ou, 1.500 milímetros. Em tudo por tudo,
errei.
E
o pior. O texto foi assim pro jornal, assim pro blog, foi desse jeitinho para a
edição do meu livro e, de quebra, foi para a orelha de “Janeiros”. Uma mancada
das grandes.
Não
vai dar para chamar todo mundo que adquiriu o livro, para um recall. Rogo,
porém, pelo perdão dos meus leitores. Foi um erro de cronista presepeiro, que
ousa praticar o diferente. Faltou zelo, atenção em todas as fases e trajetórias
dessa crônica, o que é motivo suficiente, não para que eu deixe de arriscar
novas formas na minha escrita, mas para que eu exercite com mais apuro, a
percepção (agora sim, nua e crua) do que escrevo, tanto em grandeza, quanto em
pequeneza.
Era
pra escrever sobre esta mancada, sábado passado, escrevi sobre a prova dos
nove. E por falar nisso, 15 decímetros, novesfora, é 6. E a única vez que vi
uma medida em hectolitro, foi no comércio de castanha. Uma medida injusta, aliás,
imposta ao homem da floresta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário