sábado, 19 de agosto de 2017

crônica da semana - segundona

Segundona
Não me tenham, como tantam por inteiro, apenas vou na leva. Na média. E é cada marmota que a gente arruma, nessa vida louca...
O que se deu foi que em pleno domingo véspera de feriadão, minha mulher se surpreendeu de me encontrar todo ajeitado no meu cantinho da cama, embrulhado só com o nariz de fora. Espantou-se com a minha determinação já que não iria acordar cedo no dia seguinte. Aliás, por causa do feriado imprensado, só voltaria a madrugar, na quarta-feira. Me toquei nas paradas e a única coisa que me ocorreu justificar foi que aquele é o meu costume, o meu jeito de ser meio doidinho.
E é de espantar por inteiro. No domingo, o custo é aparecer o letreiro do Faustão que já vou programando meu despertador, bebo aquele golinho de água, rezo o “com Deus me deito, com Deus me levanto” e vou me ajeitando pra dormir. E é tão centrada a intenção, que eu, que gosto pacas de futebol, às vezes nem vejo ‘o gols’ de tanta precisão que vejo em dormir cedo para acordar cedo. Diga se não é leseira por demais.
Esta minha determinação vem se construindo ao longo do domingo. Falo brincando, mas é sério. Domingo, depois de meio-dia, pra mim, já é segunda. Segundona cheia dos ais e uis.Tudo pode acontecer no domingo até a hora do almoço. Toco um pandeiro no samba, tomo uma gelada, passeio, bato o ponto na Banca dos Escritores Paraenses, na Praça da República, espaireço e libero o cocuruto de compromissos. Mas deu aquela horinha, o dia volteou ali pelas doze badaladas do sol a pino, vai dando aquele tóim óim óim na cabeça, e já que me avio nos termos. E de tal forma é, que, antes que a noite caia, o meu uniforme já está passado, meu par de meia separado, a mochila com minhas coisinhas pessoais arrumada. Só não calço a bota logo porque dou uma forra à comodidade, à confortabilidade.
Desde que tempo sou assim. Faz parte da minha carteira de responsabilidades este exagero. Sou meio aperreado nas amarrações de compromissos, mesmo sem pressão.
Nos tempos que trabalhava no mato, em Rondônia, no Xingu, por aí pelo ermo amazônico, armava acampamento nas mais altas lonjuras, pra lá donde o vento faz a curva. E mesmo distante dos centros administrativos das empresas, dos chefes e dos cartões de ponto, não dava mole. Sete horas já estava tomado café e de boroca no ombro, pronto para a lida. Por estar longe, fora de foco, com a equipe na mão, controlada, bem que poderia variar a jornada. Sair um pouquinho mais tarde, deixar a neblina sentar, tomar um café mais sossegado. Mas quite! Fazia questão de cumprir horário. E ia na frente. A galera atrás, emburrada, alguns ainda bocejando, outros terminando de mastigar as bolachinhas do café, os mais atrasadinhos, se equipando, ajeitando um lado do meião sobre a bainha da calça, dando uma correndinha para alcançar o grupo, ajeitando o outro lado...

O tempo passa, as urgências mudam, algumas seduções, permito que apareçam imperdíveis, irresistíveis, no domingo. Eu vou ficando mundiado, me arredando pra perto. De repente...Tóim óim óim. Não tem escapatória, domingo, pra mim, depois do meio dia, já é segunda, a segundona.

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