A limousine do ricaço
Tenho
uma irmã que sempre que me visita, deixa uma prosa pra lá de especial. Domingo
próximo passado, revelou que se considera uma pessoa pra lá de chique, porque,
na vida, já andou de limousine.
Na
reuniãozinha de família, todo mundo desdenhou desta pavulagem. Mas quando, já?
Ora, limousine! A gente se ampara na sorte para pegar uma vaga sentado, no
Sacrabala, agora avalie um rolé de limousine. Nem nunca!
Para
mim, é um carro de ricaços, coisa de cinema. Não acreditava existir uma
limousine em Belém. Até que um dia, aconteceu, num casamento.
Era
junho, os meninos estudavam no colégio do Carmo e a noite era dedicada ao tradicional
folguedo. Tem aquela hora que a festa ganha aquele ar intimista, os alunos
procuram seus grupinhos, arrastam pé pelo salão e os pais são largados ao
largo, só no mingauzinho de milho. Fiz um trato com os meninos. Podiam se
divertir a valer que a gente ia bem ali, na praça tomar uma cervejinha porque
ninguém é de ferro (pleno sábado!). Quando saímos, uma movimentação de gente
bem vestida, só no salto e paletó, chamava a atenção. Encerrava-se uma
cerimônia de casamento na igreja do Carmo. De repente, uma surpresa. Pelo canto
da praça, vislumbramos uma reluzente aparição, um carro esticadão e maravilhoso
Era sim, uma limousine exibindo-se em pomposa aproximação.
Foi
lá em baixo, no beco, fez a manobra, o motorista encostou rés o portão da
igreja, e desceu.Tão engalanado que mais parecia um major da RAF . Os
convidados cercaram o carrão e lá de dentro, sob uma chuva de arroz, emergiram
os noivos. Receberam homenagens, beijinhos e abraços rápidos. A marcha nupcial
lá longe, tocada delicadamente por músicos refinados. Uma débil tentativa de
organizar as mais animadas e a noiva lançou o buquê. Tão logo os providenciais
conselhos da mãe foram guardados na memória da noiva, os dois entraram no
carrão. Foi então que rolou o momento mais garboso do evento. Não é que a
limousine tinha aquela abertura no teto! O motorista ligou o motor, mas não pôs
o carro em movimento. Deu-se o suspense. Eis então que os noivos aparecem no
topo da limousine, com sorrisos largos e metade dos corpos para fora,
ostentando taças adocicadas de champanhe e amor. Aplausos, encantamentos,
invejinhas discretas e sinceros rogos diluídos na turba e o carro desaparece na
dobra da Dr. Assis.
Eu,
que tomar uma cervejinha iria, fiquei bebinho da silva com aquela solenidade. E
com a exuberância daquele carro esticadão com teto solar super útil em plena
noite de São João.
A
humanidade seguia assim, de limousine, no meu cocuruto, num mundo irreal, até
que o vendedor de mingau que a tudo assistia ao meu lado, cortou meu barato revelando
que não era de verdade, aquela limousine. Era uma imitação mal arranjada. Minha
convicção foi destruída por aquela opinião. Voltei ao normal, desacreditando na
existência de limousines, motoritas da RAF e chanpanhes.
Hoje,
a única limousine que acredito é aquela que carregava minha irmã, quando ela trabalhava
na casa de uns ricaços no Rio de Janeiro e nas férias, ia toda chique, no
carrão com eles para Angra.
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