Janeiros
É
o quarto episódio de uma aleatória temporada da série que mais com pouco
explico. Vai ter sessão de autógrafos hoje. Sei que aos sábados, tenho muitos
leitores que me acompanham aqui na coluna. Em outros lançamentos, tive
oportunidade de conhecer alguns de vós. Seria bom nos vermos. Apareçam.
Fosse
outro o caso, eu poderia até oferecer um caldo de cana com pão doce, um Q-suco
de groselha com broa polvilhada. Mas, Deus te livre e guarde! Não pode. O
regulamento da Feira do Livro é rígido. Não permite seduções e nem prazerosos
intermediários. A coisa é ali, entre o autor e o leitor. Ninguém se mete.
“Janeiros”
é a realização de um desejo que venho cultivando desde 2013. Tô querendo
guardar em livro, as crônicas que venho publicando no jornal. É uma missão. São
quase quinhentas crônicas. Isso em uma única edição sairia uma fortuna, então, venho
picando as publicações, em episódios, sempre que aparece uma graninha. Nesta leva
de intenções, a série vai se ajeitando. Na sequência das edições vieram “O rio
do meu lugar”, “A rainha do rádio”, “Corrente” e agora, este “Janeiros” que vos
apresento. Por enquanto está tudo nos conformes. O bom pai tem me ajudado e meu
projeto tá caminhando rente como pão quente.
As
outras edições da série foram temáticas ou enquadradas em razões para se
realizarem. Ora conceituais, ora sentimentais, ora estilísticas. “Janeiros”
obedece a esta cobrança formal que me imponho.
A composição do livro é inspirada em uma dinâmica textual muito usada
por Nelson Rodrigues, e evidente em “O Óbvio Ululante”, coletânea que terminei
de ler dia desses. Arremedando a pegada do autor, “Janeiros” é formado pela
repetição de temas. Nos meus escritos, encontrei eco no método abonado e
assumido, por Nelson. Reparei que abordo o mesmo assunto umas quantas vezes.
Mas dei, também, que este é o grande desafio, o grande barato. Dar movimento,
tratar tramas constantes de formas variáveis, esta é a motivação. Sinto benzinho
essa pressão nas crônicas que escrevo no mês de janeiro. É o mês de aniversário
de Belém e há anos dedico a coluna à cidade. Com o cuidado de dar roupagens
diferentes às histórias. Um ano falei da geografia, em outro mirei na
arquitetura, mais outro e apontei para o coração de quem ama Belém. Uma versão que
me deu muito gosto fazer foi a que expressei a relação com a cidade, do ponto
de vista de alguém que está distante. Centrei a narrativa no Acre e criei uma
personagem inspirada em minha mãe. Muitos segredos não vividos se revelaram
para mim, naquela experiência.
Uma
construção cíclica, tendo uma Belém inalterada sentimentalmente, e em
contrapartida, travestida de incertezas, exige sempre um recomeço e uma guinada
estratégica ao racional. Reescrever, reiterar o já dito, o já vivido, o já
pensado, é sentir-se à vontade para nascer de novo e ver o cotidiano com outros
olhos, com outra voz, com braços e pernas livres. Novos olhares são novos
saberes, são novos prazeres. São janeiros.
A
reinvenção de temas pauta o meu novo livro. Todo janeiro, me renovo. Em “Janeiros” me reinvento. Borilá. Espero
vocês à noite, no Hangar.
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