sábado, 10 de junho de 2017

crônica da semana- recomeços

Recomeços
Éraste,  parece uma coisa, olha! Ô paradinha pra dar certo no jeito e na cor. A gente nem dá o particípio, nem corre nos intercâmbios, sequer recorta os entornos ou dobra as calendas e, tibum! Mergulhamos nas mais doces coincidências.
Calhou d’eu entender que este momento que vivemos, embora permeado de dramaticidades e extravagâncias, seja também de reviravoltas, de revoluções. Não que eu esteja sendo acometido de um otimismo vão, sem sal e sem aval. Também não sou assim, bestão, alienado. Tenho consciência de que o cenário é delicadíssimo. Ao mesmo tempo, porém, é de decisões.
Penso que segui um princípio de sobrevivência, um juízo inquebrantável. Vamos resistir. Pensando bem, algumas feridas abertas neste corpo-Brasil são reveladoras, expõem diferenças antes camufladas, exibem as hipocrisias. Assim, o caminhar até que é mais seguro, vamos reconhecendo as vilanias, e daí, criamos defesas, superamos as hostilidades com o combate da hora.
Isto, em todos os campos de relacionamento. Naqueles que atingem o bolso, ou em outros que nos esmigalham o coração.
Pois não é que calhou!
Vi olhos, neste início de junho, brilharem como antes não brilhavam. Vi horizontes se descortinando num comportamento múltiplo, em escalares desafios, e medo nenhum percebi, tecido ou trançado ao largo. Pai d’égua, isso! Vi passos decisivos no rumo de recomeços.
E eu que reitero, reinicio,  reeescrevo. E eu que meto meu bedelho no fundo do olho do mundo nesta arte de “reiterar o já dito, o já vivido, o já pensado”, acho muito dos seus pai d’égua essa história de ter serventia para que alguma paradinha aconteça e mude mundos, mundinhos, Raimundinho! Mundinhos, Raimundinho!
Vi também, sorrisos reeditados, exposição de encantos sazonais, humildade, afeto perto-longe, conivência. Vi na simpatia de D. Dora, leitora aqui da coluna que desde 2013 comparece às edições da feira do Livro, no Hangar, para ter uma prosa assim comigo.Vi naquele carinho, a dimensão completa e repleta de responsabilidades, que têm as palavras que digito todos os sábados aqui. E eu? E eu acho muito pai d’égua, esta cumplicidade!
Então calhou, que por causa do título do meu novo livro, eu desenvolvesse uma dedicatória, na hora dos autógrafos, que sinalizasse para recomeços. Por causa do mês de janeiro, por causa da sobreposição de temas. Uma explicação tecnicamente possível para a edição da coletânea, deste ano, enfim. Em outro sentido, não pensei, não maldei.
Mas o mês de junho começou ditando vieses que nem janeiros. E eles se desenharam no campo do amor à vida, na esfera do trabalho, no reencontro com D. Dora. No fortalecimento de velhas amizades. Na crença em revoluções e resistências.
Não era esta a intenção. Mas calhou, ora se calhou!
E minhas noites têm sido de sono profundo e reconfortante. E minha alma me anima doce e abrandada. E minha razão reconhece o mais concreto e certeiro que possa ser o futuro. Alcançável, ora.

Ô coisa pra dar certo! Assim, apontando os particípios, os tais intercâmbios, aqueles entornos, as ditas dobras e calendas. No rumo das mais doces coincidências

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