Alguém
apareceu no quintal (O flagra)
Naqueles
tempos, havia apenas três telefones públicos no bairro. Um no Supermercado
Carisma e outro no Pisco, localizados no eixo da Pedro Miranda e um outro,
deslocado para as quebradas, no bar Pedra Noventa, que ficava na Lomas com a
Marquês.
(Ela
morava por ali, ao pegado do Pedra Noventa. Não tinha telefone em casa. E
também, o telefone do bar prestava-se mais para coisas da dia-a-dia: acionar
uma ambulância, deixar recado para amigos, matar saudade de parentes distantes.
Para os reclamos da paixão, não servia não).
Além
do telefone público, um ar de vanguarda também pairava sobre o Pedra Noventa.
Algumas fichas caíam sobre os jovens que se juntavam por lá e sobre a petizada
que orbitava as reuniõezinhas dos grandes. Nessa época conheci sons profanos como
o do Creedence; alucinados, como os ponteados de Santana, e ainda uns bregas em
francês que marcavam as contradanças nas sedes do Santa Cruz e do XV. Eu não me
metia na parada dos grandes, mas ficava ao largo, orbitando...
(Um
dia ela me chamou para ver alguma coisa no quintal. A casa era quase de esquina.
Tinha uma fachada clara e um amplo ‘chagão’. Era por ali que a gente chegava, sem
ser vistos, à sombra dos cajueiros. Ficamos por ali, falando coisas banais,
catando sementinha do chão, fofocando temas do vulgo... Era um terreno úmido,
um barro escuro e liso. Havia uma valetinha encostada da cerca, por onde
escorria a água que vinha do jirau e ia dar num fundo cheio de capim. Um pé de
café, um de caju, duas goiabeiras e umas quantas pimenteiras, completavam
aquela paisagem agradável e perfumada).
Entre
os grandes, que já tomavam uma coisinha mais forte e ouviam jazz, no balcão do
bar Pedra Noventa, alguns já galgando degraus importantes na vida. Haroldo,
calouro de Letras, com a cabeça raspada e a boina da Federal e Corôa, graduando
e já versado em Engenharia Florestal na Escola de Agronomia do Pará. Galo,
Torto, Pindoba, Nazaco, Pela-Pela, Deonde e Lourival, completavam a turma. Com
destaque para Lourival que além de contumaz frequentador do balcão era um
músico de primeiríssima e, apesar do joelho bichado, mandava prender e mandava
soltar, como quarto beque, na zaga do Natal. Todos, de certa forma, eram meus
ídolos. Não sei bem por quê. Talvez pela tez libertária com que recobriam suas
vidas.
(Naquele dia, o bar Pedra Noventa estava movimentado...((continua no livro que vai ser lançado em Maio))
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