sábado, 6 de fevereiro de 2016

crônica da semana - Barros Barreto

Pés de eucalipto
Antigamente as pessoas que sofriam dos males do pulmão eram internadas e passavam meses isoladas, em tratamento no Barros Barreto. Uma pessoa enfraquecida (ou esfraquecida, como rezava o vulgo), era assim que conhecíamos o doente do pulmão, era confinada, submetida a antibióticos, a regras singularmente austeras de comportamento.
As visitas eram poucas. Naqueles tempos, cheguei a ir ao hospital visitar um parente, mas não entrei. O controle não permitia o ingresso de crianças. Mas valeu pelo primeiro contato que tive com os pés de Eucalipto.
“O eucalipto é uma planta medicinal bastante utilizada no combate de diversas doenças respiratórias.... “
Anos mais tarde, lá s’stava eu coletando as folhas de eucalipto novamente, para ajudar no tratamento da minha mãe, não mais em sistema de clausura, mas da mesma forma, rigoroso. A árvore pode valer para madeireiros, uns tantos tostões se manejada para as serrarias, mas para mim, vale como provedora, cuidadora da vida. É um emblema verde e aromático de um hospital que se entrega ao desafio de recuperar fôlegos.
Neste quarto centenário de Belém, muito se falou de triste sobre nossa cidade. Desesperanças foram relatadas como a única certeza que temos. Percebi traços de negação, de vergonha e constrangimentos causados pela realidade que nossa cidade exibe.
Não me conformei com tanto desânimo e saí catando ao meu redor pontos positivos de Belém. Motivos de orgulho. Dei com os pés de eucalipto.
As árvores emolduram um centro de pesquisa e de tratamento dos mais conceituados do Brasil, o Hospital Universitário João de Barros Barreto. Fundado há 46 anos, inicialmente o hospital era direcionado a atender os ‘enfraquecidos’ de tuberculose. Há alguns anos, ampliou as áreas de atuação e hoje, além de ater-se às missões do ensino e da extensão, desenvolve tratamentos de várias patologias, incluindo aí as do ramo epidemiológico e doenças infecciosas.

É um hospital público. E a saúde pública, a gente sabe, quando se vai descer o pau nos serviços prestados ao povo, é a pri a ser esculhambada. A falta de leitos, de material para atendimento, de médicos, máquinas e instrumental são reclamações cotidianas da população. O Barros Barreto não está isento de críticas. Tem os problemas que um sistema falho lhe impõe. Mas para quem, assustado com os eventos de hemoptise, derramou lágrimas por aqueles corredores, rogando por um milagre e encontrou ali, alento, esperança e umas imprescindíveis pedrinhas de gelo, vindas não sei donde, para estancar o sangue; Para quem acompanhou um ente querido e encontrou empenho, dedicação e uma ponta preciosa de sensibildade na relação médico-paciente-acompanhante. Para quem percebeu suadas atitudes intentadas às últimas instâncias na tentativa de abrandar sofrimentos, o Barros Barreto é um lugar muito digno, atacado severamente pelos males do sistema, mas cercado de verdes e perfumados pés de eucalipto que no fim, nos termos, e no aroma me trazem lembranças de mãe... e de lutas diárias pela vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário