Pés de eucalipto
Antigamente
as pessoas que sofriam dos males do pulmão eram internadas e passavam meses
isoladas, em tratamento no Barros Barreto. Uma pessoa enfraquecida (ou
esfraquecida, como rezava o vulgo), era assim que conhecíamos o doente do pulmão,
era confinada, submetida a antibióticos, a regras singularmente austeras de
comportamento.
As
visitas eram poucas. Naqueles tempos, cheguei a ir ao hospital visitar um
parente, mas não entrei. O controle não permitia o ingresso de crianças. Mas valeu
pelo primeiro contato que tive com os pés de Eucalipto.
“O eucalipto é uma planta medicinal
bastante utilizada no combate de diversas doenças respiratórias.... “
Anos mais tarde, lá s’stava eu coletando
as folhas de eucalipto novamente, para ajudar no tratamento da minha mãe, não
mais em sistema de clausura, mas da mesma forma, rigoroso. A árvore pode valer
para madeireiros, uns tantos tostões se manejada para as serrarias, mas para
mim, vale como provedora, cuidadora da vida. É um emblema verde e aromático de
um hospital que se entrega ao desafio de recuperar fôlegos.
Neste quarto centenário de Belém, muito se
falou de triste sobre nossa cidade. Desesperanças foram relatadas como a única
certeza que temos. Percebi traços de negação, de vergonha e constrangimentos
causados pela realidade que nossa cidade exibe.
Não me conformei com tanto desânimo e saí
catando ao meu redor pontos positivos de Belém. Motivos de orgulho. Dei com os
pés de eucalipto.
As árvores emolduram um centro de pesquisa
e de tratamento dos mais conceituados do Brasil, o Hospital Universitário João
de Barros Barreto. Fundado há 46 anos, inicialmente o hospital era direcionado
a atender os ‘enfraquecidos’ de tuberculose. Há alguns anos, ampliou as áreas
de atuação e hoje, além de ater-se às missões do ensino e da extensão, desenvolve
tratamentos de várias patologias, incluindo aí as do ramo epidemiológico e
doenças infecciosas.
É um hospital público. E a saúde pública,
a gente sabe, quando se vai descer o pau nos serviços prestados ao povo, é a
pri a ser esculhambada. A falta de leitos, de material para atendimento, de
médicos, máquinas e instrumental são reclamações cotidianas da população. O
Barros Barreto não está isento de críticas. Tem os problemas que um sistema
falho lhe impõe. Mas para quem, assustado com os eventos de hemoptise, derramou
lágrimas por aqueles corredores, rogando por um milagre e encontrou ali,
alento, esperança e umas imprescindíveis pedrinhas de gelo, vindas não sei
donde, para estancar o sangue; Para quem acompanhou um ente querido e encontrou
empenho, dedicação e uma ponta preciosa de sensibildade na relação
médico-paciente-acompanhante. Para quem percebeu suadas atitudes intentadas às
últimas instâncias na tentativa de abrandar sofrimentos, o Barros Barreto é um
lugar muito digno, atacado severamente pelos males do sistema, mas cercado de
verdes e perfumados pés de eucalipto que no fim, nos termos, e no aroma me
trazem lembranças de mãe... e de lutas diárias pela vida.
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