Cadê a Neide Aparecida?
A Neide Aparecida era do tempo da Rural e do Aero-Willis. Do tempo
do óleo Jaçanã e do pão e meio. A Neide Aparecida é da época de antigamente
quando chamávamos band-aid de planticure e zíper de fecho-ecler. A moça era de
um tempo em que o bairro do Sousa era longe pacas e que a gente falava “égua,
tá ralado”, e ainda falava “é longe pacas”.
A Neide Aparecida, confesso, não me traz de volta nananina de
sentimentos ingênuos ou infantis e olhe lá, olhe lá, muito pelo contrário,
ainda hoje reino com a lembrança provocante da pequena de mini-saia atentando o
Clementino pelos corredores do edifício Balança Mas não Cai na telinha em preto
e branco daqueles anos distantes.
Enquanto a Neide serpenteava tentadora de espanador na mão pela
alegria do Balança...a minha patota varava os quintais pródigos de cajueiros e
do rasteiro camapu nas manhãs da Marquês com a Lomas, aquietava-se um pedacinho
depois do almoço e mais com um pouco, se
danava a espalmar a mão sob o lodo esverdeado a cata do balulusca ou da
colombiana no jogo de peteca da tarde. E à noitinha, se ajeitava pelas janelas
de vizinhos para acompanhar as tesouras voadoras fantásticas do Ted Boy Marino,
no telequete Montila.
A sedução de Neide se espraiava por um tempo em que os saqueiros
ainda não haviam sido tragados pela reestruturação produtiva e os sacos de
cimento usados garantiam o desenvolvimento sustentável. Um tempo em que a
laranjinha era a da Gelar e o lacre era cortado com a ‘gilé’. Um tempo em que a
gente pagava em dia as prestações do
carnê da R. Mendonça. Do tempo em que grassavam entre as mãos da molecada
fortunas em carteiras de cigarro conquistadas no palmo resultante do choque de
moedas contra a parede. E éramos todos ricos com o orgulho de, ao mesmo tempo,
enriquecermos a base de foscas e populares notas de Gaivota ou de brilhantes
e laminadas notas do aristocrático
Hilton ou Albany (aquele com filtro de carvão ativado).
Era assim: enquanto no talho do Manduca, na feira da Pedreira o
quilo e meio de Pá só com o osso da peça era embrulhado nas folhas de guarumã,
a Neide Aparecida despertava, precocemente, a libido imberbe dos meninos de
família.
A personagem que a Neide Aparecida interpretava no “Balança...”, atazanava
a vida do faxineiro Clementino. Era uma secretária boazuda, em trajes mínimos,
que se insinuava para o pobre Clementino, que de bobo e desatento, não percebia
o real interesse da moça. Esta lerdeza do faxineiro se reproduzia no bordão “xiiiiiii,
como é boa esta secretária, ah se ela me desse bola”. Cai o pano e o Clementido
passa batido como sempre: não traça ninguém.
E como era boa aquela secretária dos tempos pueris da Chulipa e do
Kichute!
O Tutuca, que interpretava o incauto faxineiro, eu ainda o vejo
zorrando, pelas esquetes do Zorra Total..., mas e a Neide, inspiração para as
primeiras e maravilhosas sensações que se anunciavam a peso de muitos
‘arrupios’ e chiliquitos para mim e para os outros da patota. Mas e a Neide
Aparecida. Cadê a Neide Aparecida?
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