O Porto é logo ali no Veropa
Agora tá
bem mais fácil da gente ir pra Portugal. É só pegar o Jardim Europa ali na
Jibóia Branca que chegamos lá rapidola....
Eita
que piadinha sem graça essa, né, mas vá lá que seja, tinha que começar esta
crônica de algum jeito. Fiz essa piada aqui em casa no meio da semana, peguei
uma sonora vaia, de tão desenxavida que é, mas me valeu, e tanto, que a trouxe
comigo para abrilhantar o sábado. E já que nem é tão descartável, a minha piada,
vou usá-la como gancho para adiantar as semelhanças ou como dizemos tão
graciosamente por cá, as parecências da beira da Guajará nossa de Belém com as
margens requintadas do Rio Douro, na cidade do Porto em Portugal.
Em
2012, aproveitando um repente que a classe operária tava rés o paraíso, juntei
meu charme, uns trocados e fui bater na Espanha. Em tudo por tudo, ficou bem
mais perto e mais barato, descer na cidade do Porto e depois ir de carro para o
litoral oeste da Espanha, região onde passaria minhas férias. De prima, logo na
descida do avião, pautei minha passagem por aquelas plagas dando um rolé pela
beira do Douro. Foi então que reparei nos traços que nos unem. A foz do rio
Douro lembra, pela forma e pelo encanto, a foz do Piry, espaço que nós
belemenses nos acostumamos a chamar de Ver-o-Peso. Guardadas as proporções
pertinentes, o visual no encarreiramento de bares, e as ofertas de repastos
estrelados por peixes e mariscos, são tentações comuns tanto na beira daqui
quanto na beira de lá. Destoa da composição, porém, o calorão de Belém e nos
distancia, de vera, do estuário lusitano, a ausência do bom vinho. Porto é uma
cidade friinha em Julho e regada... do tinto ao branco, muito bem regada.
As
semelhanças se dão, ainda, no franco congraçamento, no farto folguedo, no ir e
vir dos turistas. No desce-desce dos barris do genuíno vinho do Porto, na mesma
cadência que ocorrem as atracações e os desembarques das rasas de açaí da ilha
das Onças.
Prestei
muito reparo na arquitetura da cidade. Se eu fosse um paraense metidão e não desse
trela para o desvelo do tempo, diria que o Porto tem o desenho de Belém, ali
naquela orla. Mas não sou, e o tempo não me perdoaria pela indelicadeza. Ao que
se torna e ao que deixa, Belém, sim, com seu casario colorido na outra margem, com os azulejos de fachada; com casas
de pé direito alto, paredes geminadas e platibandas
assinadas, Belém sim, é escritinha o traço e o jeito portuense de ser e de
aparecer.
Uma
parecência de destaque são os caminhos que levam à beira-rio. Ruas estreitas,
de calçamento em lioz, margeadas por pequenos comércios. Movimentadas, mas nem
tanto. Pelo comum, não exibem a claridade nem o alarido da beira. Há um silêncio
relativo, uma sombra indefinível e surpresas boas no caminho perpendicular que
leva ao rio...
Estive
no Porto em Julho de 2012. Naquele final de ano, os amigos que me abrigaram por
lá, vieram passar as festas aqui em Belém. Na véspera de Natal, eu os levei
para bater pernas por todo o centro histórico. Viramos e mexemos por lá. Em
dado momento, varamos na Ocidental do Mercado. Ao pegado do Mercado de Ferro,
demos no Café Bolonha, lugarzinho diferente dos vizinhos varejista, com traços
coloniais, decorado com azulejos e simpática disposição de balcão e móveis.
Entramos para provar uns acepipes. Meus convidados apreciaram os sabores, mapearam
o espaço, estabeleceram as relações, perceberam parecências e cravaram: “estar
aqui é como estar em um restaurante do Porto”.
Não
disse: Agora tá mais fácil da gente ir pra Portugal. É só pegar o Jardim Europa
ali na Jibóia Branca e é rapidola que chegamos....
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