Caça ao Cometa
Tem
um no céu. E cometa a gente sabe como é, né. Uma eternidade pra aparecer de
novo. Provavelmente a gente não vai viver para reencontrar o astro. Então, façamos
um esforço.
Chama-se
Lulin. Por agora, dá o ar de sua graça no início da madrugada, e até o final do
mês, pode ser encontrado em Virgem. Em março, vai charlar, durante boa parte da
noite, junto à constelação de Leão.
Aqui
na faixa equatorial, sob forte influência da Zona de Convergência
Intertropical, temos que rebolar pra localizar o bichinho. Vivemos mergulhados
em céu plúmbeo, tomado de cumulunimbus pelos quatro cantos. Por dias e dias é
difícil de ver a luz da estrela mais fúlgida e até o escandaloso brilho de
Vênus, que dirá um pontinho embaçado com um rabicho de acanhado esplendor (os
especialistas dizem que podemos ver Lulin com um binóculo ou com uma luneta
simplesinha, mas a olho nu, temos que recorrer a um lugar com a mínima
iluminação incidente, ou seja, um escurinho possível somente no ‘interlan’, às
margens de um rio grande e silencioso – Ah, que saudade do Xingu!).
A
quem interessar possa, vamos lá: a partir de agora a gente pode fixar um ponto
qualquer no leste. Em Belém, o leste é aquela região entre a Terra Firme e o Guamá;
para quem está em Barcarena, procure o olhar dadivoso de Nossa Senhora do Tempo
e aqui na Vila dos Cabanos, é no rumo do Laranjal. Vou ser sincero. Tenho
dificuldades para reconhecer a constelação de Leão, mas a de Virgem (embora
alguns duvidem) é fácil. A partir do anoitecer (ali praqueles lados que falei,
não podemos esquecer), quando aparecer no horizonte, uma estrela brilhante, bem
mais brilhante que as vizinhas, estamos diante da constelação de Virgem. A
estrela chama-se Spica que vem de espiga, de milho mesmo, e é um legado da
Antiguidade para identificar o tempo de colheitas e farturas. As previsões
dizem que no final de fevereiro, Lulin estará luzindo por estas paragens. Boa
sorte. Eu por mim, já vou ‘atrepar’ no meu abacateiro munido com a minha
humilde luneta, à caça do cometa.
Um
outro evento muito interessante que acontece agora, e cada vez mais e mais comprometido
socialmente, é o equinócio. Ele se aproxima. Para nós, as consequências deste
arranjo astronômico são várias. Uma delas, que resulta da conjunção de fatores
relativos ao deslocamento aparente do sol, é esse tempo chuvoso que vivemos e
vamos viver até meados de maio. Uma outra e bem mais pertinente a nosostros
ribeirinhos, é a subida da maré. Entramos agora, no tempo das águas grandes.
Estava vendo aqui na tábua de maré deste mês, que a maré começou a se assanhar
agora no plenilúnio. Então, na lua nova, do dia 24, quem costuma curtir o
carnaval deixando o carro nas areias de Atalaia, fique ‘velhaco’, a caranga
pode submergir. Para as mães, mais cuidado ainda. Lembremos sempre que em Salinas,
a ‘praia enche pelas beiradas’.
A
maré maior, mesmo, aquela que dá a Pororoca e alaga as Casas Pernambucanas, acontece
só em março. Todos os anos, admiro a subida das águas lá em Itupanema. Este
ano, porém, vou mudar de estação. Desde
agora, vou acompanhar o movimento na Vila do Conde. O lugar tem sido vitimado
por vários e assustadores agravos naturais (e muitos outros ‘sobrenaturais’),
nestes últimos anos e merece um certo zelo. No ano passado, parte do terreno
que desenha a orla desabou. Houve vítimas, prejuízos e dor (não posso dizer que
foi por causa das altas marés, outros fatores estão presentes para a baixa
resistência das falésias, mas, prevenir nunca é demais).
Tenho
fé, no entanto, que as grandes marés, este ano, vão nos dar apenas as boas
águas.
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