sábado, 30 de novembro de 2013

crônica da semana - Belém - Brasília

Belém-Brasília


O camarada errou por muito. Fico imaginando naquela secura do cerrado brasileiro, o topógrafo tentando achar a mira para dar o rumo. Um sol espetacular. A vista atrapalhada. O nariz ardendo, a garganta seca. Miragens, efeitos da luz complicando...e o ponto. Pronto. Foi dada a partida. 
A Belém-Brasília, o nome já está dizendo, é a estrada que liga a capital federal a Belém. Está nos tratados e arrazoados. No entanto, se desconsiderarmos os considerandos (que explicam a estrada como sendo um conjunto de rodovias, incluindo a BR 316), a gente deduz que chamar de Belém-Brasília para esta BR, é uma tradição, é costume generoso, porque a estrada deveria mesmo, era se chamar Santa Maria do Pará- Brasília. 
Do ponto que o marcador visou a vante, lá em Brasília, há mais de 50 anos, ele varou bem longe do alvo. A chegada da BR está a mais de 100Km a Leste de Belém. 
Santa Maria é uma cidade simpática. Fica na confluência da 010 com a 316. Tem aquele traçado típico de beira de estrada, com o eixo desenvolvido se estendendo às margens do asfalto. Para quem é ex aluno salesiano, como eu, é de prima que a gente se identifica com a cidade. A Santa padroeira do lugar é a mesma Auxiliadora que roga por nós, os meninos de Dom Bosco. Acho que de certa forma, foi até bom o estirãozão desembocar numa cidade que tem fé. A Santa, tenho pra mim, que cuida de quem encara a rodovia indo ou vindo. 
Como dizia a minha mãe, por onde se torna e por onde se deixa, Santa Maria é Brasília chegando a Belém. Vamos dar o desconto pro topógrafo lá dos tempos do Juscelino. Naquele tempo a tecnologia não era esta a peso do GPS e da fibra ótica (em contraste temos o exemplo daquele erro famoso que ocorreu recentemente nas obras do metrô de São Paulo, quando da coincidência frustrada de um túnel que vinha de lá com o outro que vinha de cá; um desencontro que foi inaceitável para o padrão das novas engenharias, e olha que foi ali na escala dos centímetros). Era tudo no muque, na década de 50, tudo na caderneta e na visada certa. E a bem da verdade, esse negócio de posicionamento global, de direção, a percepção do espaço não é coisa muito fácil não de compreender. Já perdi um tempão em discussões improdutivas com um amigo querido pra lá de gabaritado na arte dele, mas completamente desfocado, quando se trata dos artifícios de localização. Pra ele, Belém está no Norte e pronto. Quando eu dizia que Belém está a Norte de São Paulo, e ao mesmo tempo está situada a Sul de Macapá, ele pirava. Não entendia esta bipolaridade. O tempo fechava e a gente tinha que recorrer, mais que depressa, a um vinho amigo para celebrar a paz. 
É conflito recorrente entre as gentes este mundiamento. Temos zangas com as referências. Em cima, embaixo. Na frente, atrás. De cabeça pra cima, de ponta-cabeça. Ao norte, ao sul. Estes são conceitos que dependem mais de entendimentos e combinações; de diplomacias e interesses, do que das leis naturais. O poder, pelo comum, dá a letra (percebemos isso quando olhamos o mapa múndi e vemos os Estados Unidos, a Europa, no lado de ‘cima’ e nosostros, embaixo. Por que não é ao contrário?). 
Essa história com a BR-010 é uma implicaçãozinha minha. Não é pra criar arenga e nem menosprezar os topógrafos que alinharam a estrada. É apenas uma birra com a notação, com a nomenclatura, no frigir dos ovos, pelo que se torna, está explicado que a Belém- Brasília é um conjunto de rodovias, incluindo esta BR 316 que nos inferniza os dias no Entroncamento; e pelo que se deixa, Santa Maria do Pará é uma cidade simpática e devota. 

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