Sandalhada à milanesa
Conheci
um camarada que, quando viajava, passava a pão doce e um tubo de Redoxon. Isso
para mim diz muito sobre potência e resistência, e também sobre superações e
fraquezas. O camarada sabia dosar graminha por graminha, a efervescência dos
seus ímpetos. Alerta também que a gente não deve sair por aí querendo ser o que
a folhinha do ano não marca.
Eu
sou dessa linha. Procuro o equilíbrio.
Quando
a gente se abala a conhecer outros lugares, já deve ir preparado. Admitir que
não tem as manhas dali. Dar umas passadas adiante, marcar passo, avaliar e
corrigir curso. Senão, acaba a grana e a gente fica na pira.
Uma
das minhas viagens de maior sucesso em controle de gastos foi para Gramado. A
cidade é tida e havida como um dos destinos mais caros no Brasil. Tem fama, tem
atrativos; a novidade do frio e, com sorte, da neve.
Tem
que se enturmar com as gentes da região. Do jeito que fazíamos nos anos 80,
quando partíamos pra Algodoal ou paraísos ainda pouco conhecidos na região do
salgado paraense só com um contado para as mais básicas precisões e para tudo
quanto os outros tantos, somente o charme e a cara de pidão, atributos com os
quais contávamos para conquistar a generosidade dos pescadores. Se não, nos
conformávamos às dádivas da natureza em abrigos nos escaninhos das dunas e nos
quentinhos das fogueiras na areia, alimentados a punhados de estrelas e brisas
fresquinhas.
Já
lá pras bandas de Gramado, a estratégia teve poucas alterações de caráter e
definições. Nos primeiros dias, o jeito foi encarar a onda. O movimento na
cidade se concentra em grande parte ali pelo centro, nos entornos da Rua
Coberta e do Palácio dos Festivais. Por aquela região, se a gente tivesse que
gravar um vídeo reclamando dos preços, não haveria gigabytes que suportasse em
tamanho e foco. É tudo lá nas alturas. Da garrafinha de água ao fondue.
Respeitando as correções monetárias, diria que nos primeiros dias, deixamos no
caixa dos restaurantes algo perto de 60 Reais. Isso para uma refeição
substanciosa por dia. Pela regra, só almoçávamos. À noite nos valíamos da graça
do Senhor, da desculpa do frio e de um pãozinho torrado com café (coisa pouca
além do redoxon). Ali pelo terceiro dia a bom bater perna, indagando aqui e
ali, descobrimos um restaurante a quilo. Caiu pela metade nosso custo, deu até
para acrescentar uma sopa no jantar. Do meio pro fim a gente já estava era
dividindo uma marmita de 10 contos. Esticamos o passeio até Canela, que é
cidade ao pegado, e lá encontramos outro restaurante bem mais em conta.
Fazíamos o roteiro, na volta, montávamos uma bem sortida marmita e levávamos
pra comer no hostel. Dava pra dois e ainda sobrava. Tô dizendo que tem que
saber das manhas! (armoleca num sabe).
Mas
não vamos longe. Aqui em Belém mesmo, fizemos um circuito cultural no domingo
tudo no raso e espremido da grana. Só nos deslocamos de ônibus, de grátis.
Embora demore uma eternidade, o fato da gente não pagar, nos permite
baldeações. Então, pega-se o primeiro que passa. Quando calha de baldearmos,
baldeamos. De água, nos servimos nos prédios e museus que visitamos ou nos
bebedouros instalados pelas docas da Guajará. Na hora do almoço foi que o
bagulho pegou. Os preços estavam por acolá. Mas mesmo se nos quedássemos a uma
extravagância, quando que dava pra quem queria! Não encontramos um único lugar
vago nos restaurantes. Fila em todos. O Veropa também estava que só passava a
brisa mesmo e aquecida também de calor humano. Pegamos um ônibus e a bom
baldear. Ao pegado do centro, encontramos um bar que servia refeição com preço
fixo, guarnição à vontade. Minha companheira se adiantou nas escolhas. Quando
voltou, veio equilibrando uma sandalhada de peixe à milanesa. Uma posta deste
tamanho dominando a guarnição, e que passava da borda do prato. Logo que
piranguei e nem fui ajeitar prato só pra mim. Deu pra nós dois. Eita domingo do
liso. Só na manha.
Tudo verdade.
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