sábado, 8 de novembro de 2025

crônica da semana - árvores gigantes

 As árvores gigantes do Tumucumaque

Eu aqui fuçando na internet meu próximo destino de turista aventureiro, dei com as expedições realizadas na região do Tumucumaque. Apreciei. Procurei mais material.  Há uma equipe dedicada às pesquisas naquela área e periodicamente eles partem pra lá para atualização de dados. Muitas dessas campanhas são divulgadas na rede. Em mim, quando vejo essas missões cheias de desafios, me bate logo a liga. Rola uma identificação. Esta de monitoramento das árvores gigantes em especial porque, exceto na envergadura porruda por demais das árvores que é fator endêmico, em tudo me é íntima. Por aquelas situações todas, passei. Destaque para a transposição das corredeiras do rio Jari. Enfrentei os mesmos aperreios no Xingu. Havia um trecho do mesmo jeito encachoeirado que, de forma semelhante, vencíamos na rabeta, na perícia do barqueiro e no equilíbrio das traias sobre a cabeça em arrodeios convulsos e pedregosos.

São os ônus do ofício. É por isso que digo: pesquisador, explorador, buscador de conhecimento e razões de vida me inventam cada uma. Se jogam na missão. É categoria que se envolve alheia a temores. Nas minhas vivências no Xingu, experimentei cada parada. Naquele tempo, coisa de 40 anos atrás, a margem direita do Xingu era um ermo só e recheada de barreiras naturais, incluindo aí a incontável legião de carapanãs que, em ataques indefensáveis, literalmente nos empurravam aos limites do juízo.

Embora os obstáculos me fossem comuns e graves, nem do trisca superavam o que passavam as equipes de florestal e hidrologia. Eram abnegados, apaixonados pelo que faziam. As minhas campanhas eram de estágio adiantado, sondagem, mapeamento de detalhe, ensaios geotécnicos. Tinha sempre uma estrutura mínima de deslocamento e acomodação. Transporte de helicóptero, acampamento com cozinha e até retrete. Eles não. A hidrologia vivia enfurnada nos barcos subindo e descendo rios em um emaranhado hidrográfico interminável. Para os pequenos da florestal, era tudo no pé e o acampamento se concentrava nas costas. Rede para descansar e passar a noite, era atada no pé de pau. Com a turma do barco, só me encontrava em raras oportunidades, no escritório, em Altamira. Tinha uma admiração enorme pelo trabalho deles, e eles se apegaram a mim. Tanto que mereci uma cópia do trabalho final da equipe. Um mapa fantástico com o maior acervo de registro de rios do baixo Amazonas. Incrível. Numa escala de bom discernimento e com detalhes fundamentais nos arranjos e comunicação entre furos. Este mapa, tenho até hoje. Está rasgadinho, tem uns remendos com durex e uns encriquilhos. Entretanto, antes do Google maps, é a minha maior e mais segura fonte de pesquisa quando quero saber coisas das beiras longes e do estuário guajarino.

Já a turma de florestal aqui, ali topava comigo. De vez em quando, nas extensas caminhadas que faziam, varavam num acampamento que eu estava. Abrigavam-se por um dia ou horas e eu fazia questão de lhes proporcionar algum conforto. Mas eles eram empedernidos e inquietos. Logo levantavam acampamento e seguiam. Faziam um trabalho admirável. Boa parte do que se conhece das margens do Xingu, ao pegado e abaixo se deve a essa turma de profissionais da Engenharia Florestal. Traçavam malhas reduzidas de caminhamento, e para cada quadrícula aplicavam a metodologia de catalogação das árvores. Mediam diâmetro, altura, envergadura...Tinha a impressão que faziam essa verificação em cada talinho que encontravam no caminho, tal era o nível de amostragem. Inventariavam o potencial da região com esmero e precisão.

Em outros pontos da Amazônia semeiam excelência. Imagino a turma que dominou as alvoroçadas corredeiras do Jari, pôs as traias nas costas, dormiu ao sereno da madrugada. Penso na felicidade quando encontraram um Angelim Vermelho pródigo em encantos distribuídos nos seus 80 metros de altura. Acredito a emoção ser também gigante.

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