sábado, 11 de janeiro de 2025

crônica da semana - paruano

 Paruano

Na virada do ano de 2023 para 2024, não economizei no pedido de ano novo, pus o sarrafo lá em cima e pedi logo foi a paz mundial. Vale dizer que animado por alguma fé, iniciei a noite de 31 de dezembro de 2023, convicto de que o espectro de cizânia espalhado mundo afora, iria se extinguir.

Um sentimento íntimo me anunciava a paz, naquele início de noite, e ainda, da mesma maneira robusto e convicto, me dava a certeza de que dali a algumas horas seria o novo milionário da Mega-sena da virada.

(Sobre a mega-sena, não ganhei, mas a atmosfera que resulta sempre é como se tivesse ganho. Vale a pena justificar a fé cega: É que durante muito tempo, fiz o jogo da virada com um companheiro de trabalho. Ele juntava um grupo grande, fazia mina de combinações, compunha na outra ponta, um feixe de cartões com sequências aleatórias. Fazia e acontecia nas crenças e otimismos. Explicava os macetes com tanto entusiasmo que era impossível a gente, mesmo dias antes do sorteio, não se sentir um milionário. Um estado que perdurava até depois do resultado negativo. Todo mundo voltava ao trabalho no dia primeiro, com aquele ar de vencedor. Ninguém largava a mão de ninguém e já nos alinhávamos para a outra chance no dezembro outro próximo.

Este ano minha fezinha dispensou o fervor do amigo. Experimentei a sensibilidade felina. Distribuí os sessenta números num punhado de papeizinhos, bem embrulhadinhos, nos aninhamos, a família, num espaço tático da cama, posicionamos a gata no extremo. Chacoalhamos entre as mãos os embrulhinhos e lançamos ao ar, a uma distância da gata. Diante daquela presepada, ela se agitava, avançava em instintiva reação e numa zunhada selecionava um papelzinho daquele bolo. E assim, a cada lançamento, um a um, a gata sorteou os números que fizeram a nossa esperança no fim de ano. Por um capricho do destino, a gata não acertou nenhum número. Fizemos zero ponto em todas as apostas de registramos. O intento, entendo que foi, de toda sorte, extraordinário. Não nos dasanimou. Muito pelo contrário. Acho que foi um aviso. Foi como se as garras da gata sulcasse um solo rico e profundo no leito de nossas esperanças e semeasse sementes de santos pés de cá te espera. Vamos aguardar a virada do dezembro próximo para a forra).

Agora, mirando uma mira doce, que não cobra nem ofende, pro lado da paz mundial, o que se deu nesse paruano foi um revestrés federal. No ano de 2024 foi papoco de bomba pra tudo quando é lado, disputas de fronteiras, cismas entre patriotas de uma mesma pátria. Teve gente se explodindo em nome de rasas razões, inclusive aqui no Brasil. Em pesquisa rápida nos sites de notícia, há uma indicação que terminamos o ano com seis conflitos bélicos em andamento, de alto potencial, deflagrados no mundo. Fora-parte as arengas paroquianas.

Ainda não atualizei os dados sobre os conflitos, neste início de 2025, mas pelo sentimento, parece que não mudou muita coisa. Em que pese meus votos, esforços diplomáticos, pedidos do Papa e de tantas pessoas de bem, os drones ganham os céus supridos de poderosos e certeiros explosivos. Ao mesmo tempo, ainda que o cinema exponha os horrores de uma ditadura, o desmonte, pela violência, de inúmeras famílias brasileiras, há políticos e pessoas de bem que erguem a voz em favor de um regime que tortura e mata. Dá medo e inspira o pé mais atrás, o cenário. Somos ainda uma sociedade raivosa, birrenta e agora, em modalidades domésticas do mal, um bolo em família faz as vezes de uma bomba. Devasta, destrói.

Hoje, no paruano de 2025, vou ser mais modesto.Vou pedir mais pouquinho. A mim me basta paz interior, gente amiga perto, o carinho da família e se couber, as dezenas sorteadas, as mesmas obtidas à unhadas da gata. Pedidos que, pelo que se tem e pelo que se contam, parecem mais leves, isentos de frustrações, e mais fáceis de se realizar que a paz mundial.

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