sábado, 7 de dezembro de 2024

crônica da semana - camisa 7

 Camisa 7

Futebol, gosto mesmo é de jogar. Assistir de fora, não me animo muito. Os jogos andam meio chatos esses tempos e nos estádios, a gente toma uns sustos. A última vez que fui pro campo teve até bomba.

Ocorrem as forras. As últimas pelejas do bicola para se garantir na série B, acompanhei todas e agora por esses dias, tô ligadão no Botafogo, inclusive nas resenhas.

Prestei reparo nos comentaristas inventando modas de comparações e significâncias ao fato do atacante Luiz Henrique usar a camisa número 7 nos jogos do Botafogo. Mando lá o meu pitaco.

O Botafogo apresenta, hoje, um futebol de primeira. Faz jogadas que, há tempos, estavam desaparecidas dos gramados. O próprio Luiz Henrique tem um drible que resgata os ‘dibra’ fartos que praticávamos no glorioso Internacional da Mauriti. No primeiro gol do Botafogo contra o Atlético, no início da jogada, desmonta a zaga adversária e põe o zagueiro fora da foto com um guiza clássico, daquele jeitinho que os moleques da Mauriti faziam. O técnico, reconheço, cortou e arou no jogo do título contra o Atlético. Com a (justa) expulsão de um jogador logo na saída de bola, tomou uma decisão corajosa. Qualquer um de nós que nos julgamos dominar as artes e as táticas do jogo, faria logo a menção de tirar um atacante e pôr mais um defensor em campo. Temos a cultura da retranca, nos momentos difíceis. Seu Dori, treinador do Glorioso da Mauriti, não contaria conversa. Fecharia lá atrás e ainda orientaria a bola pro mato. O técnico do Botafogo surpreendeu pela ousadia (e que tem uma explicação). Manteve o time. Bola dentro. Encalacrou o técnico adversário, que acho, teve também a postura correta. Não substituiu um zagueiro por um atacante. Não foi besta não. Sabia o que tinha pela frente. Um ataque azeitadíssimo, jogando por uma bola espirrada, uma brechinha, ou uma chance de trabalhar jogada, mesmo em inferioridade numérica. Tinha razão de não abrir a guarda. Mesmo com a formação defensiva original, levou dois gols da máquina botafoguense, no primeiro tempo, ainda que contando com o dito um a mais. Que dirá tirando um defensor.

Mudou de idéia no segundo tempo. O técnico optou por reforçar o ataque. Deu sorte. Nem bem começou o jogo, deu um desconto com um gol absolutamente inesperado, do chileno Vargas, que com estatura modesta e boa colocação, superou os grandalhões guardadores da meta botafoguense. Desde aí, como diz a galera, o Atlético mineiro amassou. Time do Botafogo se aguentando só com dez jogadores foi ficando na baba. Estava na hora de entrar o Júnior Santos.

Entrou e disse pra que veio. Fez duas jogadas de velocidade e habilidade. Em uma delas, fez o gol que sacramentou a vitória do alvinegro carioca ante o alvinegro mineiro.

Poderia ser diferente? Não sei. Ninguém sabe. Os deuses do futebol nem aí para arriscar uma pitaco. Mas...

O mesmo Vargas, que abriu a porta da esperança para o Atlético e deu um susto na torcida do Botafogo, logo adiante perdeu dois gols que o Nikita, que era zagueiro do inquebrantável Internacional da Mauriti, jogador e serviços gerais do Cine Paraíso, mesmo dotado de poucos recursos técnicos, e nenhum faro de gol, jamais perderia. O Botafogo mesmo sem um jogador, mandou tão bem na decisão da Libertadores que parece que tinha o time completo somado ainda a uma torcida apaixonada e a um décimo terceiro elemento nessa conta vitoriosa: aquela mãozinha (ou aquele pezinho descalibrado) do Vargas. Ainda bem.

Quanto a camisa 7 do Luiz Henrique, ele dá, hoje, ‘dibras’ que ninguém mais dá, tem repentes decisivos e, por hora, tem contribuído com a boa campanha do Botafogo, no ano. Tem que honrar esta camisa que já emanou brilhos intensos quando usada por Garrincha, Jairzinho e Zequinha, a trindade fabulosa responsável por este pequeno aqui do extremo setentrional do Brasil, torcer pelo alvinegro lá da Guanabara.

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