A manga que cai
Neste
instante em que escrevo, nos pertos do dia dez de dezembro, não minto não. Tive
que esquentar uma água pra poder tomar banho. Bateu uma sensação térmica pro
lado do friozinho aqui em Belém. Pela banda da tarde não encostou nos, até
confortáveis, trinta graus a temperatura e agora já escurecendo, me ajeito nos
agasalhos para enfrentar os glaciais 26 graus que se anunciam à boca da noite.
Tenho
que falar do tempo e dos entremeios, dos escondidos dos fatos e das surpresas
instigantes. Mesmo com a voz rouca da resistência. Ainda que enfrentando ecos
adversos. Há de se guardar os instantes no abrigo da crônica para que mais
tarde as verdades sejam checadas, os desfechos justificados e, que Deus nos
acuda e nos perdoe, as previsões sobre as alterações do clima sejam,
lamentavelmente, abonadas.
Tenho
tudo na ponta do lápis. Desde o dia 30 de novembro que chove com freqüência em
Belém. Um comportamento do tempo imediato, diferente dos usuais contados e
vividos. Normalmente se espera a chuva mais constante, a partir da segunda
quinzena de dezembro. Pelo menos pra mim, nas minhas lidas de rotina e
profissionais, as medidas de adaptação ao período chuvoso só acontecem na
segunda metade de dezembro. Só depois do dia 15 é que ensaio as providências. Ocorre
que esta chuva, agora no traçado imprevisto, me pegou sem sombrinha, ora veja.
Sobre
os entremeios, tem o caso relevante da chuva do dia 30. Não aconteceu pelo
escrito do costume. Aqui da minha janela virou, mexeu acompanho o ritmo da
chuva. Minha referência de intensidade é o chiado no telhado metálico do vizinho;
e de velocidade e direção do vento, é um açaizeiro esticado que se impõe como
índice ali pras bandas da Perebebuí. E que por linheiro que é, se verga mais ou
menos, conforme a força da ventania. Tenho que pelo comum, inclina-se sempre
pr’ali, pras bandas do centro da cidade. E este foi o dado curioso e que a rouca
voz deve registrar. Naquele último dia de novembro, na hora da chuva, que chiou
bastante no telhado do vizinho, o açaizeiro tombou foi pro lado das matas da
aeronáutica. A chuva deu ao contrário. Fato raro. Percebi porque marco presença
toda vez para apreciar a chuva da janela e nesse dia não deu jogo. O pampeiro
vinha me molhar dentro de casa. Tive que fechar tudo.
São
os detalhes, os escondidos dos fatos. Céu com nuvens de textura algodoada de
manhã, temperatura abaixo dos trinta nas tardes, vento sul e forte de dobrar
até embaixo o açaizeiro, nem bem começou dezembro. E vai aí um salve a este
açaizeiro, heim. O bichinho verga, vai rés o chão, pros lados do sul, e como
observado dessa vez, pro lado do norte, mas não quebra. Um herói de bailado
dramático como se estrelasse uma peça clássica roteirizada em chuvas, medos e sobressaltos
do clima.
Sem
sombrinha, tenho que me conformar e me abeirar pelas marquises até comprar uma
que abra bacana sem trançar os ferrinhos. Também, olhar com cuidado os eventos
que se contrapõem aos meus conformes, e da mesma maneira, prestar reparo na
mudança de modos. A chuva sempre vem dali, vem de carona com o vento que sopra
de leste para dentro da floresta. O que maldo é que tanta nuvem pegou carona,
que foi se empilhando lá na frente, sofreu um revestrés e voltou. Deu na chuva
ao contrário. Do dia trinta pra cá, tomou jeito. O açaizeiro voltou a dobrar
pra lá, pra banda do centro.
Deixa
estar, que só nessa virada pra dezembro a temperatura média de Belém, se a
gente for ousado nas contas, deve ter caído uns dez graus. Assim, no repente.
Daí o choque e a piração de esquentar água pra banhar.
Outro
choque foi o da manga que cai. Até o início do mês, chegava da caminhada com
três quatro mangas taludas, que catava no pé das árvores distribuídas no meu
trajeto. Agora, nem o cheiro. Chego
zerado em casa. A galera tá esperta, Acorda cedo, faz a raspa da manga que cai
e eu, ó, cheiro na vara do batista.
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