A maleta é um saco e o cadeado, um nó
Desde
2019 não tirava férias assim pras partes além das fronteiras paraenses. Mesmo
depois da pandemia aquietada e controlada ainda maldei reveses, temi
pressentimentos, quedei-me por aqui por perto e aproveitei as paradas no
trabalho para rever paraísos domésticos em Barcarena e Mosqueiro. Passados os
medos e aperreios, bivalente no sangue e na alma, este ano ganhei mundo. O
lugar escolhido foi Minas Gerais.
Alguns
fatores contaram para a escolha. Um relevante foi o financeiro. Com as
passagens pela hora da morte, o roteiro Minas se mostrou bastante em conta. O
outro componente foi decisivo. As amizades. Tenho amigos ali, pras bandas das
Alterosas, que conheço e mantenho relação desde 1983 quando trabalhamos em
Rondônia. Era uma boa ocasião para revê-los e regar nossa amizade com fluidos
de paz e compreensão, que veio bem a calhar com a proposta de revisitar
aspectos das minhas andanças pela Amazônia, enredo do livro “Igarapé Piscina”
que lanço neste mês.
Tudo
refletido e avaliado, agarrei e fui.
Alguns
impactos na viagem de avião. Aeroportos mudados, inclusive o de Belém. Sinalizados.
Não vi, como antes, risco de me perder (porque, olha, antes me perdia que só).
Passei, também, pela experiência de viajar contando com os direitos dos
sessentinhas. Outras vezes, como sempre usava a tarifa mais barata, embarcava por
último e cortava um dobrado para conseguir espaço de acomodar minha bagagem,
inda mais com esta estatura de metro e meio que não permite alcançar a gaveta,
na boa, que dirá no aperreio do corredor apinhado. A luta selvagem por um
lugarzinho no bagageiro continua, mas para mim, agora foi de boa. A prioridade legal
para embarcar nos dá escolher lugar para socar as malas, com tranquilidade.
As
malas, por sinal dão o tom. Sou do tempo em que tínhamos direito a despachar
até 20kg de bagagem sem acréscimo na tarifa. De uns anos pra cá, passaram a
cobrar e isso levou a maioria das pessoas a optarem pela bagagem de mão. Daí a
luta ferina pelas gavetas, que são raquíticas e contadas. Muita bagagem.
Tamanho das malas e das pessoas diferentes, indelicadezas, atrasos, esbarrões e
estresse na hora de se ajeitar para seguir com a viagem.
Pelo
que entendo, as companhias meio que compulsoriamente agem para evitar o caos; e
na última hora, tentando um alívio, buscam interessados em despachar a bagagem
sem custos, já ali na biqueira do acesso à aeronave. Uma atitude, diria que
regrada pelo sadismo, pois que se franqueasse o benefício ainda no check in,
facilitaria pacas o processo.
Eu
acho um transtorno viajar com as malas dentro do avião. Fosse de graça, despacharia
de prima e entraria na cabine só com a minha frasqueira com lanche e água. Daí,
que quando chamam ali na base do arrependimento e da hora para despachar a
bagagem, sou o pri. Mando tudo pra esteira. Mesmo porque carrego uns quase
nada. Naquele baque: a maleta é um tanto além de um saco e o cadeado...
Por
falar em cadeado.
Fiquei
besta de ver que na hora do despache grátis, pouca gente se arvorou. Eu, lógico,
e mais uns dois gatos pingados. Me pus a refletir por que as pessoas preferiam
o caos, a luta selvagem a se livrarem do peso das malas. Na sequência, saquei.
Medo.
Hoje
os cadeados das malas tornam-se frágeis nós. Facilmente desatados. Há o risco
da mala ser batizada, trocada. Periga a gente embarcar limpo, cidadão de bem e
desembarcar nocivo meliante... Por essas, a galera prefere mesmo é andar com as
coisinhas coladas no corpo, não tirar os olhos das bolsas e malas e ficar
atenta. Impressionado, quis voltar atrás e pegar minhas malas de volta. Mas
quite... Já estavam amassadas no carrinho, embaixo de tantas outras. Ainda deu
pra ver o cadeadinho. Era pouco mais que um nó.
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