A beleza da noite
Podemos
reclamar do calor que deixa a gente em tempo de estoporar. De correr doido. Vale
reinar uns ralhos na turma de refrigerados vereadores que votou contra a
instalação de ar condicionado nos ônibus. Um jeitinho de tirar o brilho de
pupunha da carinha corada a gente tem que arrumar. Banho aqui, acolá,
ventilador em tempo de levantar vôo e olhos pro céu à cata de um sinal de
chuva, que não vem, fazem parte do rito e da valência diária.Temos, porém, que
dar um desconto porque sem as nuvens e com os dias sem chuva, o céu dá
espetáculos um atrás d’outro. Amanheceres doirados, pores do sol matizados
loucamente, sem regras; O planeta Vênus mergulhando na beirada tangente da
Terra, imenso, e essa lua que nos visitou semana passada, heim... Que lua!
O
esplendor da lua fez das nossas noites, durante boa parte da semana, um sonho
de luz aos olhos bem abertos. Inspirou, legou esperanças, deu vontade de cantar
na janela. E foi num trisca que recorri à canção do Mestre Curica que diz
exatamente sobre a ação inevitável que nos anima diante de tantas sensações:
“vou curtir a beleza da noite”. Nos leva a apreciar, imaginar, criar ilusões,
ou apenas contemplar a lua em noite prateada, enfim, nos alenta, nos revigora e
nos alerta para os fenômenos naturais que fascinam. Até do calor a gente
esquece.
E
o mês de agosto nos reserva ainda outra grandiosidade no céu. A superlua azul.
Não.
A lua não vai se tingir de azul. Este é um fenômeno que sempre ouvimos falar e
consiste no fato de a fase cheia da lua se repetir no mesmo mês. O que torna é
que o ciclo de cada fase da lua se realiza em 28 dias. Do jeito que, se a lua
minguante cai num dia 03 do mês, ela volta a ocorrer 28 dias depois. O mesmo
acontece com as outras fases. A conjugação das fases e o calendário terrestre,
pelo comum prevêem uma fase por mês. Por exemplo: a lua cheia, a minguante, a
nova, a crescente tendem a acontecer apenas uma vez no período. A lua azul
identifica exatamente a repetição da mesma fase. Azul, tenho impressão, é um
jeito romantizado de dizer que aquela fase cheia ocorre pela segunda vez no
mesmo mês. Destaque-se que as outras fases passam também por esta duplicidade.
Mas não são tingidas pelo romantismo azul. É o que acontece agora em agosto. A
primeira lua cheia foi no dia 1º e a segunda, a azul vai ser no dia 30 de
agosto. Destarte que vamo se aperparar é que é, esta gente. Porque além de
azul, a lua vai ser super.
Assim
como a Terra gira em torno do sol de forma meio troncha, desse mesmo jeitinho
se dá com a lua. Esta trajetória faz com que a lua numa horinha esteja mais
perto e em outra esteja mais longe da gente. O tamanho que a gente percebe da
lua depende desta distância. Quanto mais perto da Terra, maior o tamanho da
lua.O fenômeno da superlua é justo quando a lua cheia coincide com a menor
distância da Terra. O perigeu, que é esta aproximação da lua, pode acontecer em
qualquer fase, mas quando é na fase cheia,corta e ara, é show. É super.
Já
olhei aqui na folhinha do ano. Dia 30 vai cair numa quarta-feira. Vou quebrar
minha rotina de operário de casa pro trabalho e do trabalho pra casa e vou
ficar pelo meio do caminho. Me convidei para uma varanda virada para leste, lá
na TF, que reúne parte das áreas com maior altitude de Belém, e donde dá pra
ver direitinho o nascer da lua no baixo horizonte. No melhor momento porque ao
subir pro centro do céu, o brilho até permanece intenso, mas a percepção de
tamanho, de superlua, amaina. Lá pelas seis horinhas ela vai despontar formando
um círculo 7% maior que o de costume e 15% mais brilhante. Vamos fazer um
brinde e, embevecidos, nos dar seguir o conselho do Mestre Curica e curtir a
beleza na noite.
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