O amor platônico, o Icosaedro e outros medos
Tá
bom, essas formas geométricas particulares são difíceis de entender. Muita
viagem de Platão. No entanto, já chegaram a justificar nossa existência. Logo
voltamos a elas. Por outro lado, o amor platônico a gente dá conta e sabe. É
inatingível. É aquele que acontece quando a gente tá a fim, mas a outra pessoa,
nem thum. Nos românticos causa sofrimento, dor, formigamento no lado esquerdo do peito. Mal do século. Aos
racionais inspira compreensões, ponderações, aprendizados e até oportunidades
de negócios lucrativos e de sucesso, como nos conta Eça de Queirós em “Alves
& Companhia”. É aquele amor doce, nutrido pelo Eros espiritual, divino.
Distante do amor regido pelos Eros vulgar, carnal, terreno. O amor platônico nos
confina em uma caverna donde só nos são permitidas as sombras de um mundo
delirante, grandioso, repleto de prazeres e risos fartos. Uma hora ou outra,
sabemos notícias de felicidade, sempre contemplando outras pessoas e esvaziamos
ainda mais por dentro, nos introduzimos mais ainda na escuridão e no abandono.
É um amor que sublima, que transcende. Tira a gente do chão da vida e nos põe
em estado de apagamento e torpor. Nos emudece, nos cega, nos ensurdece. Alguns
que amam e não são amados fazem poemas de tonelagem dramática colossal e que são
belos, embora pesadíssimos. Outros riscam tristezas dentro de si e vomitam
sangue. A maioria, porém, atravessa os dias na normalidade, embora, um gosto
estranho de fel na boca. O amor platônico é eivado de contradições, de tantas misteriosas
intimidades, e de tal forma complexo que mais leve me parece, continuar esta
crônica dando ibope para os 5 sólidos de Platão. Alguém já ouviu falar? E por
que 5?
São
figuras geométricas que têm volume. Aparecem também tentando explicar o mundo
pelos argumentos da Filosofia. Surgiram a partir de figuras planas. Um
quadrado, por exemplo, que não tem volume, pode formar um cubo, que tem. Platão
coletou propriedades comuns a estas figuras, estabeleceu limites e critérios no
sentido de conceber regras de composição e viu que a partir de figuras planas
como o quadrado ou o triângulo, poderia criar infinitas outras figuras sem
volume. Mas somente 5 com as três dimensões que dão volume aos objetos. E fazendo
as experimentações, montando as peças, desenhando, intuindo, o Filósofo viu
nesta limitação de combinações a elegância e a delicadeza da Natureza se
exibindo em plenitude e se revelando em seus elementos criadores. Os nomes dos
5 sólidos são difíceis de pronunciar ou decorar, mas são legais de conhecer e
de saber o que simbolizam na visão platônica. Tetraedro, por exemplo, que tem
quatro faces, representa o fogo. O Octaedro é uma bipirâmide de base quadrada e
simboliza o ar. Icosaedro tem o maior número
de faces e traduz a fluidez da água. Tem o nosso Cubo, de nome clássico
Hexaedro, que pela rigidez, só pode lembrar a Terra. E por último, o Dodecaedro
que pelas 12 faces é relacionado ao universo e também às 12 casas do Zodíaco.
Legal, né. Esta perfeição na composição dos 5 sólidos, na visão de Platão
condensava os elementos essenciais para a existência do mundo.
Mais
tarde, o astrônomo alemão Johannes Kepler se apoiou nesta construção platônica
para elaborar a teoria do Heliocentrismo, onde admitia a órbita do Sol ser
percorrida por apenas 5 planetas (tal qual o modelo perfeito dos 5 sólidos). Ao
publicar seu trabalho, Kepler também pensou ter revelado o segredo geométrico
da natureza. Muita viagem, né. Na real, os 5 sólidos e seus mistérios contém
tantas contradições quanto o amor platônico.
São leves e ao mesmo tempo pesadíssimos do jeito de um amor não
correspondido.
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