E por falar nisso...Cadê o Zaire?
Procurei
e não achei. É que o país mudou de nome e agora se chama República Democrática
do Congo. Resulta que o antigo Zaire entra aqui na minha história de Natal por
causa, ora, ora, em tempos de Copa do Mundo, por causa da bola.
Fosse
eu hoje, pedir um presente de Natal, quereria, sem um par sequer de dúvidas,
uma bola. Nenhuma brincadeira de rua, produção qualquer da Estrela, jogos estes
ou aqueles, do ludo à dama dos tabuleiros na praça, me deram maior prazer,
imensa satisfação, que uma bola. O futebol é minha alegria desde que tempo. E
em detalhe: gosto mais de jogar do que ver jogos de bola, seja apreciando ao
vivo ou pela televisão.
Era,
no entanto, naquele jogo da copa, um molequinho esperto se metendo no meio de
uma vuca de torcedores que se aglomerava na frente de uma loja na Pedro
Miranda, para assistir ao jogo do Brasil contra o Zaire em 1974. Em cores.
Marcou,
aquela minha parada na calçada para espiar. Uma porque o Zaire representava ali
o primeiro país da região centro-africana a participar de uma copa no mundo. E
outra, porque era numa TV colorida e naqueles tempos, remosos que só, TV à
cores era coisa rara aqui na barra.
Na
vila em que eu morava, na Mauriti, era só no preto e branco, numa ou noutra
casa, ainda se esnobava com aquela peça de acrílico colorida montada sobre a
tela, comprada de um homem que entrava na vila de vez em quando oferecendo
aquela tentação para matizar o televisor. Quem não reunia numerário nem pra
comprar do homem, inventava moda colando papel celofane na tela. E salteando as
cores. Quando tinha jogo, sapecava um verde pra dizer que era a grama do campo.
Em casa, sequer TV tínhamos. Nos batíamos de janela em janela na interação
amiga da televizinha. TV em cores para assistir à copa naqueles tempos, era
difícil. Só quem tinha era o pessoal que morava na pista. Li em uma página da
internet que, depois de levar uma peia de 9 x 0 da Iugoslávia e um singelo 3 x
0 do Brasil, o time do Zaire foi ameaçado até de morte pelo governo autoritário
do país. Voltaram vivos para a África, mas ainda, segundo a página, viveram o
resto da vida, marcados, sem glória e na pobreza.
Pelo
menos em mim, a pena era leve. A vida dura nos tirava o básico e qualquer
satisfação mais elaborada. Mas a bola, no Natal, mamãe não deixava faltar.
Depois de ter cometido o pecado de me
presentear, certa vez, com o ludo, mamãe dali pra frente não errou a pontaria.
Era certeira na bola. E eu, ó, ficava era num pé e noutro de alegria. O objeto
de desejo de todo moleque era ter uma bola Dente-de-leite. Custou. Antes, me diverti
com a bola Pelé, com a bola Rivelino e outras não colunáveis que a um chute
mais potente, variavam pacas. Uma outra categoria de bolas também enchia os
olhos da molecada: os pneus. Eram bolas para além das travinhas nas calçadas e
peladas na rua. Exigiam campos de verdade. Do Asas, Trabalhista... O mais
procurado era o pneu nº5. Pelo valor, nem era contemplado como bem individual.
Pneu se conseguia na coleta, com o patrocínio das mães fora de cogitação. A
turma que quisesse ter um, tinha que vender muita garrafa, sucata de metais,
fazer carretos...
Quando
enfim, ganhei minha Dente-de-leite, tratei dela com muito carinho. Toda vez,
lavava, enxugava, guardava debaixo da minha rede. Sonhava com ela. Durou mais
do tanto comum, e já no finzinho, meio ovalada, ainda ganhou alguns remendos
com faca quente. Sem mais ter o que dar, saiu da vida nos campinhos de caroço
de açaí para entrar nesta história junto com o Zaire.
Daqui
a pouco vou lá embaixo. Comprar o meu presente de Natal. Adivinhem o que será
...
A família tem essa dívida contigo. Bola, Bola...kkk
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