Os hits da copa e dos boleiros
O
meu pandeiro rebate no gol/E na defesa bate o tamborim...
Estes
versos são do amazonense Chico da Silva, o mesmo compositor que criou o hit
parintinense “vermelho, vermelhusco, vermelhão”. Cantei e toquei dentro dos
meus limites de afinação e harmonia. Publiquei na minha time line e os amigos
mais aqueles de indulgentes, até curtiram. Quis fazer uma presença no calor do
momento-futebol-total-de-copa, que vivemos. Mas publiquei também porque gosto
pacas da arte do Chico da Silva. Ele me torna o tempo. “Esquadrão do samba” foi
gravado em 1978, época em que eu era caixeiro da taberna Santo Onofre, na
Marquês, ali ao pegado da antiga recapagem de pneus. Ouvíamos o samba no
radinho que o dono da taberna sintonizava toda manhã no ‘Mais mais’ da AM
preferida dele. A composição tem a peculiaridade de estabelecer relação entre o
samba e um time de futebol, atribuindo aos instrumentos, funções e posições que
jogadores assumem em campo.
Há
vagas, por agora, para retomar músicas que trazem como tema o futebol. Mesmo
porque, este ano, tá vasqueiro. Eu da minha parte não conheço nenhuma marchinha
ou um bambambam famoso que tenha gravado uma música para este torneio do Catar.
Como
não sou de pedra concreta e impenetrável, não posso fazer que não vejo o fut
rolar todo dia na TV. Dou ibope. Conta na conta, que sou boleiro e tenho na
sacolinha sentimental de guardados, a minha melhor copa do mundo, aquela que
marcou.
Inclusive
pela prodigalidade da trilha sonora, foi a de 1982.
Teve
clássico do Moraes Moreira filosofando sobre o balanceio do filó e o calcanhar
de Sócrates; Júnior, discreto, viu e cantou o Canarinho verde; Luiz Ayrão
cravou no ‘dá-lhe dá-lhe bola’ um refrão gramaticalmente ousado. E tantos
craques... o Telê. O melhor time que já vi.
Por
aqueles dias, calhou de rolar também, a colônia de férias da Escola Salesiana.
Era um convênio que o padre fazia com a LBA, antigo órgão assistencial do
governo e que de vez em quando, despejava uma graninha na periferia, com
iniciativas limitadas. No caso aquele, férias da molecada. Para nós que
orbitávamos as esferas de confiança do padre, era a chance de atuar numa função
educadora e ao mesmo tempo, fechar uma remuneração.
Naquela
ocasião, montamos um quadro de responsa. Especialistas em várias modalidades de
esportes, instrutores de arte, músicos e atores já consagrados contribuíram com
a proposta do padre de trazer um lazer mais qualificado para a Sacramenta. Foi
incrível! Eu, como conhecia o espaço, ajudei na disponibilidade de estruturas
da Escola. Dentre elas, o estúdio da rádio cipó. Coordenei a programação
durante toda a jornada, dando informes e comandos para o dia e, na torcida pelo
nosso escrete canarinho, subverti a vocação funcional da rádio com intervenções
que traziam a garotada à participação. Realizava competições de calouros
exatamente usando as músicas que falavam da copa. O prêmio era uma entrada
adicional na fila do pão doce com caldo de cana, na cantina.
Originalmente,
não era lotado no estúdio. Como eu fazia Voleibol na ETFPA, tinha as manhas e
as teorias, iniciei a colônia em quadra. Ocorre que tínhamos uma combina, os
instrutores, de todo dia, ainda no escuro da madrugada, traçarmos um fut-moleque-doido,
antes da chegada das crianças. Na primeira dessas partidas, recebi uma entrada
que rebolei lá adiante. Na queda pisei em falso e torci o tornozelo que nem o
Polêmico Neymar.
No
mesmo dia, mandei uma benzedeira puxar. Depois, o padre achou por bem me tirar
da quadra e me aproveitar na rádio. Melhor. Todo dia punha a vitrola pra tocar
o samba do Chico da Silva e os hits da copa.
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