O Patrono
Agora,
no final de outubro, a Academia Barcarenense de Letras realizou a primeira
Assembléia Ordinária da entidade. Constou da pauta a cerimônia em que cada
membro escolheu o seu patrono. Na hora me veio uma paz, uma leveza de perpetrar
o ato com o carimbo de um eficaz recado. Escolhi Rufino Almeida como o patrono
da minha cadeira. Foi a maneira de dizer para Barcarena, para a família do
Rufino, para os companheiros de prosa e verso e para o Rufino que vive em
nossas memórias afetivas e literárias que ele não passou por essa beira de rio
em vão.
Sobre
meu patrono.
Rufino
Almeida foi um homem da ação. Absoluto e prático.
Ativista.
Defensor das condutas urbanas (lutou em campo minado contra o hábito de fumar
nos ônibus e ambientes fechados). Atleta empedernido (além dos 70 anos de
idade, competia em todas as campanhas esportivas locais, nacionais e em várias
modalidades). Fotógrafo dos grandes eventos culturais (boas lembranças os
escritores paraenses têm registradas, por ele, das primeiras Feiras do Livro,
no Centur). Escritor em várias frentes e vezes. Contista, cronista, poeta,
crítico, trovador.
Inspirador
do companheirismo, formador e disseminador do espírito coletivo, foi membro
entusiasta, ao lado de estrelas como Ruy Barata, da Associação Paraense de
Escritores. Pertenceu junto com o poeta Antonio Juracy Siqueira à União
Brasileira de Trovadores Seção Belém e também na UBT, assumiu a função de
vice-presidente de administração. Era um sonhador este barcarenense. Empregava
desmedida fé na união dos escritores.
Revisitando
a obra “Quaterno”, que ele classifica no predicado do título, como sendo de
“crônicas, contos, cartas e discursos”, localizo os vários nichos estilísticos
de Rufino e ainda me certifico do caráter de pleno cidadão que o envolve, como
ilustra o jornalista Lúcio Flávio Pinto, na orelha do livro: “Rufino é um homem
que lê, ouve e informa, empenhado em projetar-se em sonhos e utopias. Até por
força de suas práticas esportivas e da luta pelo pão de cada dia, circula
intensamente pela cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará e seus arredores,
como a Barcarena, do seu nascimento”.
As
circunstâncias, a construção de uma articulação mínima entre escritores nos
permitiram encontros freqüentes na “Banca dos Escritores Paraenses”, espaço coordenado
pelo escritor Cláudio Cardoso, na Praça da República, nos últimos tempos.
Desses encontros, resgato “Poemas Nus”, edição de 2011. Tenho o livro de poemas
autografado na página de rosto, e, donde, mais adiante, em nota, o autor
reproduz um texto que o acompanha desde a primeira publicação, em 1984. Nele,
uma narrativa quase em código. Um recado:
“a pretensão de ser um dia reconhecido, ainda que na posteridade, requer a
prática de um insistente exercício de paciência e resignação ante à indiferença
dos que vêem a literatura e, especificamente, a poesia, como um gênero menor.
Embora a busca do sucesso seja o principal objetivo de todos os que se lançam
em qualquer segmento das artes em geral, confesso que meu principal objetivo é
dividir solidariamente com os leitores, minhas emoções experimentadas, ao longo
da vida”.
Nascido
em Barcarena, Rufino Almeida viveu 30 anos no Rio de janeiro. De volta ao Pará,
nos contou sonhos.
As
palavras de Rufino nos indicam o caminho.
Em
trinta anos de literatura publicou, entre outras obras...
Quatro
caminhos; Poesia Nua e Crua; Poemas Nus; Quaterno; Sincrônicas; E os infantis, A
menina que soltava passarinhos e O sapinho guloso
Não passou por essa beira de rio em vão.
Raimundo, sempre um prazer ler você e, quando é um testemunho uma impressão sobre um artista como Rufino, nosso patrono na Academia Barcarenense de Letras (diga-se de passagem, nome sugerido por você) é melhor ainda.
ResponderExcluirObrigado Sodré.