Sonho americano (viva o SUS!)
Tem
coisas que só vendo de perto, apenas espiando de palmo em cima ou conhecendo
por depoimento e experiências de pessoas da mais estrita confiança, é que a
gente entende e bota fé. A vida como ela é de verdade nos Estados Unidos é uma
delas.
Esta
semana troquei umas idéias com uma amiga que mora lá. E que passou uns dias em
Belém, de férias. Procurei saber das maravilhas, das belezas, comodidades, do
sonho americano. E, também, um pouquinho da ralação diária. O alvo foi a saúde.
A amiga confirmou. Nada lá é de graça. UPA aqui e ali, não tem. Resgate, 192,
nem pensar. Curativo nos postinhos, quite. Todos estes serviços existem, óbvio,
e com a excelência americana. Ninguém deixa de ser recebido nos hospitais. Mas
é só tornar do atendimento que a conta vem. E não é nada barato. É tudo na casa
dos milhares de dólares. A amiga deu exemplo na família. Até hoje tem boleto
pra dar definição ao final do mês por causa de um atendimento do companheiro
dela. Imagino agora, nesta época de pandemia, quanto boleto não foi gerado,
heim! Por lá, o que rola mesmo é o sistema privado. Planos particulares são os
articuladores da saúde da população. Ocorre, segundo minha amiga, que mesmo boa
parte da população sendo abrigada nestas carteiras de atenções, ainda assim,
são comuns os casos, como o que ela experimentou, de o usuário ter o plano, mas
ainda ter que arcar com um percentual no custo dos serviços. Penso cá com meus
botões: um país tão liberal no trato da saúde pública tem que, necessariamente
gerar muito emprego. De outra forma, sem estar vinculado a um plano empresarial
ou sem bancar um modelo individual, como se cuidar? Como se manter ativo no
mercado? De que jeito e maneira continuar vivo e respirando em caso de um
revés?
Então,
viva o SUS!
Desde a
Constituição de 1988 é direito do povo brasileiro ter acesso aos meios que lhes
garantam a saúde. E sem custos. Dali em diante, surgiram hospitais, unidades de
bairro, centros especializados, atendimentos de emergência, tudo como obrigação
de ser ofertado gratuitamente pelo Governo.
Antes, no
meu tempo de menino, o sistema no Brasil arremedava o sonho americano. Acesso
aos atendimentos de saúde, só aqueles que tinham carteira assinada e os seus
dependentes. O Sistema era uma atribuição do INPS. Quem não tinha trabalho
formal se atava como dava. Era cada um por si na terra do Saci. Em Belém, as
consultas com o dentista eram naquele prédio à esquina da Presidente Vargas com
a Osvaldo Cruz, que tinha elevador com ascensorista e porta pantográfica. O
atendimento infantil, na Avenida Nazaré perto da Dr, Moraes, de onde saí certa
vez de ambulância, com papeira, para a internação na Santa Casa. Na função de
operadora de caixa contratada, mamãe tinha direito e nós, os acreaninhos, fomos
no vácuo como dependentes. Depois que mamãe saiu do emprego, nos valemos de
chazinhos, sebo de holanda pros inflamados e, nas horas de precisão mesmo, do PSM da 14 e do Centro de Saúde. Eu, por mim, tomei muita
Benzetacil e tirei abreugrafia, todo ano, no centro 3, da Pedreira para
apresentar na matrícula da Escola Técnica. Nestes locais, administrados pelo
município, não era necessário o vínculo formal empregatício. Nossa valência.
Muitas
pessoas que conheço e que admiro estão vivas hoje, depois de passar pelos
horrores da Covid-19, por causa do SUS. Estou certo: há o sonho americano. O
rés-o-chão por aqui, porém, é mais embaixo.
Então,
viva o SUS!
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