sábado, 13 de novembro de 2021

crônica da semana - viva o sus

 Sonho americano (viva o SUS!)

Tem coisas que só vendo de perto, apenas espiando de palmo em cima ou conhecendo por depoimento e experiências de pessoas da mais estrita confiança, é que a gente entende e bota fé. A vida como ela é de verdade nos Estados Unidos é uma delas.

Esta semana troquei umas idéias com uma amiga que mora lá. E que passou uns dias em Belém, de férias. Procurei saber das maravilhas, das belezas, comodidades, do sonho americano. E, também, um pouquinho da ralação diária. O alvo foi a saúde. A amiga confirmou. Nada lá é de graça. UPA aqui e ali, não tem. Resgate, 192, nem pensar. Curativo nos postinhos, quite. Todos estes serviços existem, óbvio, e com a excelência americana. Ninguém deixa de ser recebido nos hospitais. Mas é só tornar do atendimento que a conta vem. E não é nada barato. É tudo na casa dos milhares de dólares. A amiga deu exemplo na família. Até hoje tem boleto pra dar definição ao final do mês por causa de um atendimento do companheiro dela. Imagino agora, nesta época de pandemia, quanto boleto não foi gerado, heim! Por lá, o que rola mesmo é o sistema privado. Planos particulares são os articuladores da saúde da população. Ocorre, segundo minha amiga, que mesmo boa parte da população sendo abrigada nestas carteiras de atenções, ainda assim, são comuns os casos, como o que ela experimentou, de o usuário ter o plano, mas ainda ter que arcar com um percentual no custo dos serviços. Penso cá com meus botões: um país tão liberal no trato da saúde pública tem que, necessariamente gerar muito emprego. De outra forma, sem estar vinculado a um plano empresarial ou sem bancar um modelo individual, como se cuidar? Como se manter ativo no mercado? De que jeito e maneira continuar vivo e respirando em caso de um revés?

Então, viva o SUS!

Desde a Constituição de 1988 é direito do povo brasileiro ter acesso aos meios que lhes garantam a saúde. E sem custos. Dali em diante, surgiram hospitais, unidades de bairro, centros especializados, atendimentos de emergência, tudo como obrigação de ser ofertado gratuitamente pelo Governo.

Antes, no meu tempo de menino, o sistema no Brasil arremedava o sonho americano. Acesso aos atendimentos de saúde, só aqueles que tinham carteira assinada e os seus dependentes. O Sistema era uma atribuição do INPS. Quem não tinha trabalho formal se atava como dava. Era cada um por si na terra do Saci. Em Belém, as consultas com o dentista eram naquele prédio à esquina da Presidente Vargas com a Osvaldo Cruz, que tinha elevador com ascensorista e porta pantográfica. O atendimento infantil, na Avenida Nazaré perto da Dr, Moraes, de onde saí certa vez de ambulância, com papeira, para a internação na Santa Casa. Na função de operadora de caixa contratada, mamãe tinha direito e nós, os acreaninhos, fomos no vácuo como dependentes. Depois que mamãe saiu do emprego, nos valemos de chazinhos, sebo de holanda pros inflamados e, nas horas de  precisão mesmo, do PSM da 14  e do Centro de Saúde. Eu, por mim, tomei muita Benzetacil e tirei abreugrafia, todo ano, no centro 3, da Pedreira para apresentar na matrícula da Escola Técnica. Nestes locais, administrados pelo município, não era necessário o vínculo formal empregatício. Nossa valência.

Muitas pessoas que conheço e que admiro estão vivas hoje, depois de passar pelos horrores da Covid-19, por causa do SUS. Estou certo: há o sonho americano. O rés-o-chão por aqui, porém, é mais embaixo.

Então, viva o SUS!

 

 

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