Belém-Mosqueiro-Belém
Vou te
contar, olha. O camarada vai passar o domingo em mosqueiro? Vai. Mas... Chove o
dia todo que Deus dá.
E foi
um acontecimento, uma extravagância que a bom os anos passando e eu não fazia.
Contando na ponta do lápis, tinha cravado 25 anos que não ia à Bucólica.
Difícil de acreditar, né. E quando o camarada vai... me chove!
Entretantos
e tempos, houve de eu tirar umas esticadas encarreiradas pra lá. Era na época
de igrejeiro, jovem militante das causas salesianas. Bem sim, bem não,
pegávamos a estrada no Fiat com o Padre Lourenço ou no ônibus guiado pelo Nino,
para um retiro, um carnaval diferente, um mutirão na casa dos padres, que se
localizava nos escaninhos da Baía do Sol. Embora contabilizada com aquela freqüência,
a viagem por estrada não chega perto do caminho que fiz até a ilha, pelo rio.
Primeiro, quando eu era bem molequinho, a bordo do Presidente Vargas e, muitos
anos depois, aos sábados, na linha que cruzava a baía a 50 centavos, numa
invencionice simpática do poder público.
Esta visita
de agora que digo, foi de carro. Pela ponte.
Rolou
uma emoção (sentida só por mim. Ninguém com quem partilhava a viagem deu ibope
às historinhas, às reminiscências que narrei enquanto vencíamos os 1.457,35m de
travessia em cima da ponte Sebastião R. de Oliveira). Cantei até a música
famosa na época da inauguração: “Belém-Mosqueiro-Belém/Eu vou e volto num
segundo/ A ponte Belém-Mosqueiro-Belém/É a coisa melhor do mundo” (peço todas
as vênias por não citar o autor dessa música, e tanto que busquei aqui nos
sites de informação. Achei um isto, um aquilo, mas nada que assegurasse ser o
dito e o certo da composição. Quem souber, por favor, me dê aquele help).
Como a
audiência para os meus causos foi baixa, voltei-me à paisagem e aos detalhes do
furo das Marinhas. E não é que de prima dei com uma ilha se formando embaixo da
ponte, ali pelo meio do trajeto. Muito firme de apreciar... Tornei à turma que
estava no carro com uma informação pra lá de empolgante. “Sabia que na época da
inauguração aquela ilha não existia?” O gancho não empolgou ninguém.
Mas eu
insisto: é um fenômeno cheio de riquezas e detalhes geológicos. E muito comum
nos rios da Amazônia. Rios de planície. Ali do outro lado da ilha das Onças,
indo pra Barcarena, tem uma outra muito no jeito se formando. Se não me fogem
os apontamentos escolares, essas ilhas são elementos fluviais conhecidos como
barras e são geradas, mais comumente por presença de obstáculo. É o caso da
ponte que se meteu no caminho das areinhas que circulam por ali. Até pesquisei
num site de notícias que deu trela pro surgimento da ilha. Ficou em a ver. Diz
no texto que iria pedir a opinião de especialistas e tal e coisa, mas não
mostrou o resultado da consulta. Já que ninguém explicou, explicado está por
mim, se eu estiver errado, lascou-se. Vai todo mundo pra debaixo da ponte do
conhecimento comigo.
Passamos
da ponte. Éramos convidados para um batizado na Baía do Sol. Antes da
cerimônia, o primeiro chuvisco. Dei um mergulho, almocei e fomos aos ritos. Foi
só o bebê receber as nossas energias e a bênção da baía, o pampeiro arriou de
vez. Nós, ó, pra trás.
No
caminho de volta, aos cruzarmos a ponte tentei de novo uma prosa sobre a ilha
lá embaixo, cantei a música, trouxe histórias do padre Lourenço. Sem audiência...
E a água caindo do céu. Quando varamos na BR, nenhum sinal de chuva. Asfalto
seco, seco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário