Os barulhos da
quarentena
Agora, por
ocasião da pandemia, quando o medo diário nos exige ficar em casa, os nossos
aviamentos de sobrevivência foram lá pra cima no preço. O di cumê, produtos de higiene,
medicamentos, tudo ganhou uma pitada de aumento. A luz já se assanha pra subir
também. Outros componentes do cenário eremitério também estão pela hora da
morte. Equipamentos, serviços que nos ajudam a vencer a solidão, saltitam que é
uma maravilha as casinhas das unidades de Reais. Internet, televisão, aparelho
de som, pacotes de séries, não tiram o pé do acelerador de preços. Não bastasse
o vírus assombrando em cada esquina, pra completar a derrota, o meu celular,
esbandalhou. Ficou panema que só arfa. A tela ficou parecendo um tecido de
paletó antigo. O puro riscado. Faz e recebe chamadas, só. Outras ferramentas,
não liga, não acessa, nem dá um oi. Pronto, lá se’stou eu por fora dos sustos e
fakes espalhados pelo zap. Fiz a menção de comprar um novo, quite! Ainda tô zonzo
com os valores. Um celular hoje está batendo com o preço por acolá.
A elevação do
preço das coisas não é o único detalhe que a gente presta reparo em tempos de
pandemia. Cinco meses de confinamento aguçaram a atenção para barulhos e
comportamentos que de outro jeito, passamos batido.
Elegi três, aqui
em casa, e um barulho externo, que estão deixando sua marca. O vrummmm no
último do ventilador; o bip prolongado do microondas e o chuá de água
escorrendo, todos pautando uma rotina totalmente modificada nos últimos tempos.
E vindo lá de fora, com toda energia que tem, o barulho selvagem do Arrocha, a
qualquer hora, e em aspérrimos decibéis, faça chuva, faça sol.
Pelo comum de
antes, só nos encontrávamos em casa, ali pelo início da noite. Durante o dia,
era todo mundo na rua. Naquelas circunstâncias, os espaços e costumes eram
dosados, harmonizados ao nosso cotidiano.
Agora, nos
alertamos, a cada instante, para o jeito de cada um. E é aí que a dinâmica dos
barulhos se revela. Para onde a gente vai, acossados por este calor medonho, o
ventilador vai atrás. Às vezes dá até uma arenga de disputa, mas de curto e
certo é o barulho ininterrupto do tufão, no afã de amainar a quentura que não
amaina não. Daí para um banho ou um asseado pra refrescar é um pulo. O chuá da
água também não para. É lavando a mão, é lavando a louça, é no banho pra aliviar
a quentura, é a desobriga santa de cada um. Termos e jeitos alterados, o
metabolismo também perde o prumo. A gulodice, ou uma coisinha só para apaziguar
aquele buraco no estômago, também não escolhe tempo. De quando em quando é a
luzinha seguida do bip estirado do microondas.
Agora, tô
encasquetado mesmo é com o barulho de fora. Zueiro, o paraense é mesmo (e isso
não é um elogio). Quando põe o treme-terra pra rodar, não alivia. É de balangar
a casa toda. E abalar o humor de qualquer um. Desse mal sofro que só, mas agora
o tremor se assevera por causa do mesmíssimo estilo de música. É sempre o
Arrocha. Seja no ao’pegado de cá, seja no de lá, ou mesmo vindo de um carro estacionado
com a mala aberta ali na pista, a barulhada é a mesma. Com o requinte de ter
preferência por uma única música. Uma que ensaia um tiau, e que, obrigado pelo
caos instalado, já estou até aprendendo umas partes. Um caso a ser estudado.
Uma música que (na minha opinião, observo) é de toda ruim, fazer tanto sucesso
algures e alhures, é sem dúvida, um fenômeno.
Os dias se
sucedem em medos, espantos e barulhos. Vrummmm! Biiiiippp. Chuá. Por hoje é só.
Oi e tiau.
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