O frio do meu quintal
Se a gente
contasse, na cidade, com ônibus equipados com ar condicionado, na certa, eu
romperia o isolamento social, e daria, pelo menos, duas voltas completas no
Pedreira Lomas só na frescurinha, só na confortabilidade, depois do almoço.
Seria uma alternativa ao custo de duas passagens, para vencer esta batalha
duríssima que está se tornado o horário ‘de meio-dia pra tarde’, em Belém. Porque
ar condicionado em casa, é só pra quem pode, né.
Mas que é
necessário, isso é. As tardes estão de esturricar o cocuruto. Por demais quente
e seco, o tempo. Sem cabedal pra manter um ar condicionado e sem a opção de um
tour no Pedreira-Lomas, o jeito é improvisar no quintal.
A primeira opção
que grassou aqui no coletivo, foi uma piscina, plástica, daquelas que fazem a
festa da meninada. Estava até encaminhada uma pesquisa e tudo, mas tinha um
custo, o tamanho da piscininha, grande para a área reduzida do quintal, mas
pequeno, caso todo o coletivo quisesse dar um tibêi ao mesmo tempo.
Aí, dei que tínhamos
há tempos, uma mangueira em casa, sem uso. Rapidola, abandonamos a idéia da
piscininha. Resgatamos a mangueira dos guardados, montamos os engates, as
conexões, as vedações. Achamos até aquele bico controlador de vazão pra adaptar
na ponta. Pronto, nossas tardes de calor amainado estavam garantidas. Dá até um
friozinho, na hora do banho de mangueira. Duvida?
Aí é que a gente
torna para os mistérios do universo. Pleno sol de rachar, temperatura pela hora
da morte, mormaço, a gente em tempo de estoporar e um jeitinho aqui, outro ali
no jato de água, muda tudo radicalmente.
A fonte desse
mistério é exatamente o bico regulador de fluxo que adaptamos na mangueira.
Quando alteramos a forma do esguicho, um fenômeno espetacular, que vou me
esforçar à cata da explicação, acontece. Com o bico da mangueira totalmente
aberto, o fluxo de água é contínuo, compacto e acompanha a temperatura
ambiente. Sai uma água quentinha. Por outro lado, quando a gente fecha a saída,
no bico, a água vem fracionada, o jato forma aquela cortininha, à guisa de uma
chuva em pequenas gotas. Desse jeito a água fica fria que é uma maravilha.
Conseguimos refrescar o corpo e resfriar o ambiente, só fazendo chuveirinho.
E tem um detalhe
que é um assombro. Há um jeitinho de formar a cortininha, bem em cima da gente,
que quando nos oferta o jato neblinado individual, tem a capacidade de reduzir
drasticamente a temperatura na área em que atua. Um tempinho de nada embaixo dessa
nevinha, e periga até a gente tiritar e bater o queixo.
Nas tentativas
de tornar a tarde um tempo possível de sobreviver, sorrir, ter algum ânimo,
experimentamos a valer, as várias restrições no bico da mangueira e nos
contentamos com a sensível melhora da temperatura e do humor, no quintal.
As tardes da
família agora são de resistência ao calor, do jeito possível. Mesmo porque, não
pudemos contar com uma ajuda de nossos representantes na Câmara Municipal, que
nos permitisse, por lei, dar as voltas pela cidade, beneficiados pelo ar
condicionado do Pedreira-Lomas. E também, são tardes de buscas pelas
explicações. Reconhecemos, por esses dias abafados, que a satisfação
refrescante pode até ser alcançada pelo instinto, mas só a ciência, o apego ao
conhecimento, podem explicar o fenômeno que, olha, tem nos aprazido pacas nos
últimos dias. Vou já recuperar dos meus guardados, os apontamentos do professor
Campbel, lá dos anos 80, na ETFPA. Tenho certeza, esse friozinho, ser arte que
a Física explica.
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