O
incomparável
Eu
era pequeno, eu me lembro. Pensava, como o ministro interino, ser a Terra, em
suas bandas, imutável. Depois cresci, fiz a conta dos mais de 20 mil
quilômetros de diversidade que se estendem desde o Equador até os pólos e
refleti sobre a necessidade de formarmos doutores que nos ajudem a dar outra
cara aos fenômenos e adaptá-los ao nosso termo e jeito. A exemplo do
incomparável inverno amazônico. Eu topo essa parada
O
conhecimento sobre o clima no Brasil foi abalado, dia desses, pela declaração do
ministro interino da Saúde. Afirmou o ministro que as regiões Norte e Nordeste
têm uma afinidade com o regime climático do hemisfério Norte. E insinuou que
essas semelhanças se refletem no período em que ocorre o inverno nessas regiões
do Brasil, que segundo ele, acontece de dezembro a junho.
Penso
que o ministro interino cometeu vários erros nessa fala. Um deles, e o mais
grave, foi repercutir um pensamento de casquinha, superficial, sem substância.
Aquele que marca uma pessoa que se subordina à opiniões frágeis. E isso é um
desastre, considerando o momento em que precisamos exatamente de inteligências
e de mentes férteis, no país.
Fazendo
declarações deste porte, o ministro interino confirma uma preocupação expressada
pelo Presidente da SBPC quando esteve em Belém, há alguns anos, participando da
Reunião Anual da entidade. Alertou, o presidente Ennio Candotti, sobre a enorme
carência de doutores na Amazônia e externou o desejo de que a região deve ser
estudada a partir de seus ‘laboratórios naturais’.
O
que o ministro interino da saúde fez, ao proferir aquela declaração, foi
justificar a preocupação do presidente Ennio lá atrás. O Brasil não investe em
pesquisa, não estimula estudos particularizados de cada ambiente, não usufrui
das mensagens de seus laboratórios culturais, sociais. Não percebe a sabedoria
popular e sua enorme serventia ao agregar-se às ciências.
Se
o ministro, no lugar de divulgar insensatezes, lançasse mão do conhecimento
científico, saberia que o tal do hemisfério norte tem mais de 20 mil
quilômetros de extensão e a cada palmo de superfície, se altera em suas
características e correlações. Macapá tem uma dinâmica climática bem diferente
de Nova York. Ambas as cidades integram territórios no hemisfério Norte, porém.
Entenderia,
o interino, que o termo ‘inverno’ tem uma conotação global resultante da
inclinação do eixo da Terra e que o uso deste termo, sem uma condição espacial,
implica em perigosíssimas interpretações.
A
gente aqui de Belém, até intui que um arranjo só nosso, um conceito que nos
cabe benzinho podem ser aplicados ao comportamento do clima em nossa região. Em
fevereiro deste ano, pipocaram fotos e informações sobre as temperaturas
glaciais registradas na cidade, coisa de tremelicantes 20 graus. Teve aquela
série de chuvas diluvianas no início de março também, que esfriaram e alagaram
a cidade. É certo e batido o uso da notação ‘inverno amazônico’, ao clima que
vivemos nos primeiros meses do ano. Há só um porém nessa história. É uma
definição climática que ainda deve ser explicada por um argumento científico. E
ratificada pelas sociedades e pelas áreas de conhecimento envolvidas. Seria
como se criássemos um descritivo de responsa para o inverno que não seja aquele
representado pela fábula da formiga e da cigarra. Comporia um estudo de um
regime próprio. Um trabalho de confrontação (e de negação) com o que ocorre no,
recentemente aludido, inverno do hemisfério Norte.
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