Ah,
Ouro Preto!
“Cada
treinamento durava três meses. No final, foi acrescentado o curso de Química e o
estágio em Ouro Preto.”
Reconheço
que sou injusto quando digo que a melhor coisa que me aconteceu nesses 26 anos
foi aquela visita a Ouro Preto. Não é verdade. Tirando uns pelos outros, tive
muitas satisfações. O trabalho, entendo sempre, tem o fim de nos prover. E,
realmente me foi dado acessar livros, bens, mesmo que modestos, um futuro para
meus pequenos, conhecimento. Cheguei até a fazer uma viagem, enriquecedora, ao
exterior, a trabalho.
Mas
Ouro Preto! Ah, Ouro Preto!
Deixo
escapar. Na hora de escrever sobre Ouro Preto, dou uma ajeitada na cadeira,
ponho a espinha ereta, peço uma iluminação. Porque além de me permitir conhecer
uma cidade que reflete uma energia extraordinária, aquela viagem me proporcionou
rever adoráveis amigos.
Para
entender este meu chiliquito quando o tema é Ouro Preto, tenho que voltar a
história até chegar em Rondônia, no início dos anos 80.
Saído
da Escola Técnica, meu primeiro emprego foi em Rondônia. Trabalhei em mineração
de cassiterita e lá havia uma boa representação de mineiros. Minas Gerais é
Estado vocacionado para atividades de extração, ainda hoje. Exportador de experiências
e tecnologias. Me afeiçoei a muitos dos importados e alguns deles
reencontraria, depois de mais de dez anos, naquele estágio.
Ouro
Preto é cidade esteticamente impecável. Tem uma plástica harmonizada, uma
arquitetura atávica, encorpada. Além de tudo, este arranjo todo lhe dá um
caráter de obra de pictórica. Ouro Preto é um núcleo desenhado sobre painéis de
história e arte. O resultado é uma cultura rica, dinâmica, exercida em vários
campos. Na pintura, na poesia, nas artes de pedraria, na música. Envolvida por
uma juventude ativa, que se distribui pelas inúmeras repúblicas, a cidade se
combina entre o ânimo da modernidade e o respeito à antiguidade.
A
fábrica em que eu estagiei era um contraste com todas as impressões que se
tinha na cidade. Era uma indústria, com os males e as dores que a indústria
oferece. Um empreendimento de alguma história, mas pouca arte. Cumpria meu
expediente, voltava para o alojamento e me arrumava para viver Ouro Preto. A
turma que foi comigo, era praticamente a mesma que atravessou a baía e que
participava dos jogos de bola na alta madrugada. Já nos conhecíamos. Sabíamos
do baque de cada um. Então aquela minha cisma de andar em bando era até
respeitada. Saíamos juntos, rachávamos táxi, tomávamos alguma coisa ou até jantávamos
juntos, mas depois... eu tomava meu rumo. Virei e mexi sozinho aquela cidade.
Passei
também boas horas na companhia de Fernando, que era um dos amigos que ansiava reencontrar.
Inesquecível um final de semana que nos encontramos na casa dele e assim, sem
nenhuma combina, me vi tocando João Bosco acompanhado por um clarinete.
Fernando, igual a pelo menos meio mundo de ouropretanos, também pintava muito
bem (tantos retratistas até se explicam. Ouro Preto por tão bela que é,
inspira, pede e acho mesmo que exige ser retratada). Era ligado, meu amigo, a
alguns movimentos culturais e me apresentou a uns quantos barzinhos e pubs bem
animados e diversos.
Um
dos finais de semana, sumi de Ouro Preto e fui ter com um outro amigo em um
distrito próximo. Rodrigo Silva é um lugar pacato, que tem poucas ruas e muita
amizade entre as pessoas.
Adão
Jorge era o outro técnico dos meus tempos de Rondônia que eu gostaria de rever.
Me tratou como se eu fosse um paxá. Me deu feijoada adubada pra comer, fez
passeios e me mostrou um lugar onde a gente vê o pico do Itacolomi pela parte
de trás. Contemplamos outros picos bem elevados, nos deslumbramos com a beleza
de algumas lagoas, de água fria que só, por àquela época do ano e visitamos a
região onde foi filmada a série ‘memorial de Maria Moura’. Lá encontramos umas
vendas de cachaças temperadas com bicho dentro. Escorpião, aranha, cobras...
Não me animei não.
Em
outras horas vagas preferia, sozinho, me debruçar poeticamente sobre a janela
de Maria Dorotéia para um verso e prosa.
Em
tudo por tudo, Ouro preto, foi um sonho bom de viver.
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