Da
andiroba à maniçoba
Verbo
mais encharcado de estranhezas que acho na língua é “manquitolar”. Em tudo estabanado.
Meio troncho, todo penso. Pelo comum, não aprecio. Mas dependendo do caso e do
raso, cabe numa crônica que é uma maravilha.
Neste
Círio, virei e mexi pelas ruas de Belém, manquitolando.
Deixo
escapar. Sou da antiga. Gosto mesmo é da nossa versão acabucada para o termo.
Aprecio explorar o verbo “caxingar”. Dizia-se outrora, que fulano andava
caxingando porque rasgou o pé num estrepe.
O
que torna é que vou dar um desconto. Em favor da boa prosa, jogo a toalha e
assumo o ‘manquitolar’ na paz, em que pese este peso prum lado que esta palavra
tem.
Pois
estava eu bem de flozô, caminhando pela Avenida Nazaré, bem antes da descida de
nossa Santinha, da romaria Fluvial. Folgo em fazer aquele trajeto. O trânsito,
na hora, é fechado e a avenida se mostra acolhedora, amiga. Ganho o rumo da praça
da República, admirando os arranjos, as
artes na frente das casas e dos prédios, com motivos homenageando Nossa
Senhora. Paro na frente da sede do Bicola. Bato retratos, elogio o painel, as
representações. E, de longe, os troféus. Lá atrás já havia me detido um pouco e
me encantado com a galera do Mojuvena (não sei se ainda é este o nome do grupo
de jovens do Nazaré, no meu tempo era. E como agora, no meu tempo, tocavam bem
pra caramba. Eram competidores fortíssimos no Festival da Escola Salesiana,
naqueles distantes anos oitenta). A música da moçada tomava conta da rua, de
fora-a-fora. Quando tocaram o Padre Zezinho, pirei em lembranças. Foi nessa
hora, ante os maristas, que meu joelho magoou. Estava sentado, no meio fio,
apreciando o grupo. Quando levantei, chega vi estrelas.
Há
anos faço este roteiro. Passo a vista pela Nazaré, recebo a Santa à altura do
Palácio do Rádio, e depois, ainda com os olhos marejados de emoção, sigo
cortando caminho pelo centro, para esperar o Arrastão do Pavulagem lá na praça
do Carmo.
Fui
o único da família, a ir patetar lá pras bandas da Cidade Velha. Este ano, o Pavulagem
não foi para o Carmo. Recebeu a Santa, e fez um mini-arrastão ali mesmo pela
praça dos Estivadores. E eu, olha, cheirei na vara do batista.
Fui
me batendo com este joelho latejando desde lá do Marista. Varei o Centro
caxingando. Se não sou rapaz, tinha ido mesmo bestar lá no Carmo. Em tempo
cismei.
Antes
de embicar para a Cidade Velha, sempre faço umas fotos dos barcos atracados na
doca do Piry. Admiro o enfeites, o brilho e a animação da moçada a bordo. Dou
aquele tempo no calçadão e procuro o Arrastão pelo estirão da Boulevard.
Maldei.
Embora muita gente caminhasse de lá daquelas bandas, não vi a movimentação
coreográfica característica do boi.
Caxingando,
desci até o mercado e procurei o tradicional banho de cheiro. Mas quando!
Assuntei para uma vendedora que, num carrinho, me oferecia três geladas por dez
dinheiros. Não passou e nem vai passar, o show vai ser lá mesmo em frente à
sede deles, informou-me, deixando escapar um ar de descontentamento. Tentando
aliviar a insatisfação dela, comprei as cervejas da promoção e me saí, manquitolando,
com o tento de cumprir a desobriga do ano.
Deu-se
o combinado. Recebi a bênção da Santinha, na descida da Fluvial e rumei atrás
do boi. Errei o caminho. Par’oano, me informo melhor. Dia seguinte, arriei. O
joelho por acolá de inchado. No domingo do Círio, aviei-me mais da andiroba que
da maniçoba.
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