Luz
própria
Vez
ou outra, nos encontrávamos no ônibus. Ela vindo do Paes de Carvalho, eu, da
Escola Técnica.
Tínhamos
uma relação ainda pautada em formalismos. Quando vagava o ônibus, lá pela
fábrica da Gelar, trocávamos algumas palavras, combinávamos reuniões, uma ou
outra atividade do nosso grupo. Aquelas agendas essenciais para mudar o mundo.
Déia chegava ao movimento jovem que tínhamos na Escola Salesiana. Eu já estava
há mais tempo e mal sabia que, naquele apertado do Sacramenta-Humaitá, em breves
diálogos, oportunos e operacionais, iniciava a amizade com um dos espíritos
mais iluminados que conheci. E que estaríamos, dali para frente, lado a lado
apostando nas alternativas possíveis para criar um mundo mais solidário e
justo.
A
Caminhada se deu em conteúdos e formas. Já perfeitamente integrada ao movimento
jovem, Déia influenciou, contribuiu. Com desapego e uma ilimitada alegria. Tinha
uma energia que nos inspirava a paz e a liberdade. Rompia as mais invioláveis
travas. Lembro que dos carnavais que passei, o mais divertido nem foi aquele de
notações mundanas. Foi justamente um retiro do nosso grupo de jovens, em que
formamos um par sem par na folia e na animação. Com todo respeito, fantasiamos
o Padre Lourenço de Chacrinha, logo ele que era inabalável na postura e na
discrição. Generoso que só ele, aceitou a brincadeira e volteamos com o padre,
todo sem jeito, pelo salão, umas quantas vezes, ao som das marchinhas
orquestradas. Déia operava milagres.
Daquela
garota de olhos de mar, intensos e decididos; de diálogos objetivos e práticos
e, por outro lado, daquela mocinha destemida que fantasiou um dos religiosos
mais respeitados do Pará de Chacrinha e o tornou humildemente humano como todos
nós, brotou a doutora, a militante, a cuidadora da casa, a professora, a
coordenadora de projetos culturais robustos. A mãe. A artista multifacetada. A
amiga que nos alerta sempre que não estamos sozinhos na lida. Mudar o mundo não
é fácil.
Conheci
Déia Palheta, nas caminhadas da vida, a tenho como iluminada. Mas esta não é a
absoluta definição. Orivaldo Fonseca, também membro do nosso grupo salesiano, daqueles
tempos, por ser vizinho de porta de Déia, nos meandros da passagem Maria
Auxiliadora, nos revela que ela desde a tenra infância, já demonstrava ter luz
própria. Não era iluminada. Iluminava. E na semana do aniversário de Déia, a
ela, dedica estes versos.
ESTRELA
À noite apareces estranha e cintilas, E
minhas pupilas, coitadas, São fadas tentando te achar. Mas, obscureces teu
brilho ao me ver; E como entender? Se tuas pontas de brilho me podem tocar.
Estrela de estrelas, Jogaste outras delas no meio do mar, Julgaste a teu modo o
que viste; Rainha, cobriste as súditas tuas. Mas, o que fazer? Se és estrela da
lua, Ofertas a ela clareza E brilhas e imperas Nas noites; pudera, te fazes
valer. E ocultas as outras com tua grandeza. Tuas pontas, estrela, Eu vi se
lançarem do ar, Eu sei que só vê-las não basta, Eu sei da luz vasta que jogas
no mar... O escuro que cortas importa a outros tantos; Recorda as estrelas
acesas outrora Que, embora sabendo cobriste-as, fazendo com tua grandeza. Meus
prantos no entanto, Não correm pra luz revelar, Mas quando me vires, não vires
as costas - Que importa é o agora – Vem tu, também chora; Que os prantos, de
tantos, Se fazem secar.
Obrigado, meu querido, por inserir meus modesto, mas sinceros, versos para a nossa amiga amada.
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