Corda de violão
Não
passa pela minha cabeça que um Geólogo, na hora de definir natureza e potencialidade
de uma mina; um Engenheiro de Minas, no instante de elaborar planos de lavra;
um Técnico em Mineração (como eu), no dia-a-dia, executando as tarefas; as equipes
de controles ambientais, quando elaboram planos de proteção ao espaço objetivo
e entorno; operadores de máquinas, tratoristas, motoristas, encarregados,
ajudantes; enfim, não acredito que algum desses profissionais, trate a
atividade mineradora como uma arma poderosa capaz de devastar e matar pessoas.
Entendo que seja o contrário. Penso que desempenham a atividade, vislumbrando
lá na frente a transformação daquela massa mineral em quase todos os objetos
que fazem parte da nossa vida (enquanto escrevo, num raio de 60 centímetros à
minha frente, identifico vários: computador e seus componentes, a caneta que
rascunho idéias, uma moedinha de 5 centavos, pilhas AA, uma cartela de
comprimidos com revestimento de papel metálico, caixinha de batom carmim...As
cordas do meu violão).
Disse
aqui, mina de vezes, que tudo que alcancei na vida me foi dado pelo título de
Técnico em Mineração que recebi da Escola Técnica Federal do Pará há quase
quarenta anos. O bacobaco, o de vestir, o de calçar meu e da minha família.
A
Mineração se realiza no estrato primário da economia. Em linhas gerais, se
caracteriza por gerar produtos de baixo valor agregado e alto custo ambiental.
Ou seja, está no pacote produtivo que engloba negócios geradores de
matéria-prima.
Vivo
até hoje desta profissão. Seria uma insensatez, eu chegar aqui e culpar a Mineração
pelos crimes ambientais acontecidas no Brasil. Seria condenar-me a mim mesmo.
Há uma rede de responsabilidades a ser considerada em cada falha, em cada
desvio que resulta numa catástrofe, em cada tostão gerado pela Mineração e
identificado com escusas intenções. Tenho a convicção que os profissionais
envolvidos nos casos ocorridos deram o melhor dos seus conhecimentos, usaram
dos seus caros talentos para entregarem um produto sem a mancha de sangue
impregnada nele. Se houve o crime ambiental, é justo trilhar a rede de
responsabilidades.
A
Mineração traz benefícios para o mundo desde quando habitávamos as cavernas. É,
porém, atividade de risco e, como tal deve ser considerada pela sociedade e
pelas autoridades. Defendo a manutenção e criação de regras claras e rígidas,
para que a atividade se desenvolva com segurança, cuidados ambientais e
respeito às comunidades na qual está inserida.
O
que nos inquieta é que há o que se considera o bem: o minério gerado asséptico
para o mercado; e há o mal: toda a sujeira que advém da lavra e do tratamento
do minério. Para o caso do resíduo gerado, sei que a Academia, profissionais
independentes, algumas empresas têm alternativas até de reaproveitamento total.
E para mim, investir neste quesito é uma questão de sobrevivência. Do negócio e
das pessoas.
Tivéssemos
nós, políticas concretas, se cobrássemos com seriedade a aplicação das regras
(mesmo as que existem hoje), se os produtos refletissem claramente investimentos
na área ambiental e social (e não somente ações de superfície), não teríamos
barragens se rompendo. Teríamos apenas, a corda do violão...e a minha consciência
de Técnico em Mineração desassombrada.
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