Chope
retrô
Não
sou um empreendedor. O pendor para os negócios não achou em mim abrigo. Houvesse
vocação e uma graninha aprumada, investiria tranquilamente na venda do chope
retrô. Oportunamente observo que para nós belemenses, chope, reconhecemos ser
aqueles sucos congelados e embalados em saquinhos plásticos. Em outras partes é
conhecido como dindim, sacolé, flau, suque-suque, chupe-chupe, geladinho, entre
tantos nomes. Atualmente, nosso chope de rua tem uma versão moderna, com
variações conforme o gosto do freguês. As composições oferecem receitas que vão
de dietéticas a misturas temperadas com cachaça, nas versões mais inovadoras;
no geral, porém, hoje, com certa constância, é um produto que se realiza no
estilo gourmet, utilizando sabores genuinamente regionais. O dito chope da
fruta.
A
apresentação é comum aos estilos. Um saquinho plástico compridinho, amarrado
com um nó de ponta.
O
meu empreendimento, que nem sei se é sonho, se é uma aspiração futura, se é
meta ou foco. Vá lá que seja, a minha idéia, entretanto, propõe uma volta ao
passado, tanto na forma quanto no conteúdo. Seria o chope de 35, 40 anos atrás.
Com a matéria-prima mais modesta e uma confecção mais complexa, admitindo o
abandono do nó de ponta. A vedação do saquinho seria no calor da guilhotina.
Como dantes.
Quando
trabalhei na taberna do seu Vandervino, pelos idos de 1977, era desse jeitinho
que a gente fazia o chope. Um refresco artificial colorido que podia ser de
groselha, de uvita, morango... Sabores e brilhos nada regionais.
Duas
ou três partes de pozinho com a essência, um acréscimo de água, açúcar e o suco
estava no jeito. Preparado pela nora do seu Vandervino. Depois era comigo, na
máquina. Separava os sacos plásticos quadradinhos. Arrumava a panela com o suco
de um lado, o funil para não errar a pontaria. Enchia cada um dos saquinhos e na
sequência, unia os lados e os levava à máquina de vedação. Pisava no pedal, a
guilhotina aquecida descia, pressionava, fundia as duas partes do saquinho em
uma. Eu fazia um teste apertando no meio do chope e se não vazasse, o produto
era arrumado numa caixa, pronto para ir ao congelador. Se vazasse um pouquinho,
era do mesmo jeito encaminhado para o congelador. O custo era dar um desconto numa
posição em que o líquido se acomodasse aquém do furinho, até congelar.
O
negócio, caso eu me inspirasse numa grana, ocuparia um local de grande
circulação, inserido na rota do modismo, algo como a praça de alimentação de um
shopping. E teria um layout que reproduzisse uma venda de subúrbio, expusesse o
processo, com os funcionários executando as etapas da produção e revelasse
todos os recursos utilizados, inclusive o funil. Agregada à oficina, a área de
degustação com um tutorial de como “sugar o conteúdo colorido até ficar dentro
do saquinho só o puro branco e sem graça do gelo”, que era o jeito mais moleque
de chupar um chope.
Um
arranjo em relevo exibiria dispostos uns sobre os outros, os chopes ainda em
estado líquido, todos impecavelmente vedados formando um mosaico de sutis
movimentos e de poderoso efeito visual.
Em
tempo de consumar o consumo, o degustador ainda seria surpreendido por um
moleque contratado do estabelecimento, que com aquela cara de pidão, rogaria
para o cliente, que lhe deixasse o vinte. Sem ‘suvinice’.
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