sábado, 7 de abril de 2018

cronica da semana- Nezir


Página 43
O livro, infelizmente, não tem expediente. Não dá pra saber a data de lançamento. Calculando assim de cabeça, novesfora a idade jogando a memória pra longe, juntando fatos e circunstâncias, dá pra chutar entre 1983/84. “Vôo de Liberdade”, de dados certos e técnicos vem dizendo ser uma publicação de Nezir Oliveira e ter sido rodado na gráfica da Escola Salesiana do Trabalho. Traz 35 poemas. Nem todos do autor que assina a capa. Um, sei que é meu; e outro, parceria dele com o compositor Edir Gaya. E exibe, na página 43 o poema responsável pela fama silenciosa do signatário da obra e razão desta crônica.
“Por não ter, o seu amor” (sic) saiu da página 43 do livro de Nezir, ganhou melodia, a voz de Mauro Cotta e lugar na história dos bregas cults paraenses. É clássico que vara as eras.
Nezir era ex-aluno da Escola Salesiana. Quando apareceu no nosso grupo de jovens, chamou logo a atenção. Calhou da gente estar montando a peça da Semana Santa e precisávamos de alguém com estilo meticuloso, sutil, que fizesse um conselheiro de César. Foi a conta de fazermos dois ou três contatos, entabularmos uma conversa informal, que ele ganhou o papel. Tinha a postura justa para a cena, um ligeiro arqueamento do pescoço (como quem vive aconselhando); uma voz incisiva, pausada, reta. Transmitia segurança. Olhava nos olhos. E um sorriso de lado, algo cínico, algo disfarçado. Arrasou na encenação de Páscoa, e dali em diante esteve sempre presente nas programações da Escola. Chegou a apresentar (com toda aquela chinfra) nosso festival de música que era famoso pacas e dava fama também para quem por ali passava. Muita gente que hoje caseia e chuleia na música paraense, mostrou o talento, em primeiríssima mão,  no palco da Escola.
Tirei uma casquinha dele, ora se não. Declamou meu poema “Tributo” (que mais tarde entrou em “Vôo de Liberdade”,  e por uma falha na edição, saiu sem o meu nome nos créditos) que foi o vencedor do Festival de Música e Poesia realizado pelo colégio Souza Franco, sob a coordenação da professora Josebel Fares.
Envolvido que era, arriscou no campo das letras. Começou a escrever. Em uma das minhas vindas para Belém, de férias, enquanto trabalhava em Rondônia, encontrei com o Nezir e ele me presenteou com um exemplar de “Vôo de liberdade”. Toda vez que vejo uma publicação, ou uma prosa em que a canção ganha evidência e vejo somente o nome do Mauro Cotta citado, vou lá, meto meu bedelho, dou a informação que tenho. O objeto de prova da autoria está na página 43 do livro que repousa ali na estante há bons trinta e poucos anos.
“O amor já era. Felicidade voou. O egoísmo impera”. O Brasil camba ladeira abaixo nos índices de civilidade, de honestidade e ocupação. Somamos quase 13 milhões de desempregados. Carecemos de direitos e os poucos que temos estão sendo devagarinho mergulhados num incerto horizonte. A justiça grande, de cúpula, às cegas, fere, indefere, tutela, abandona. Mas nós, cá embaixo, mesmo no aperto, resistimos. Nos quedemos ao justo, ao direito. O que é de César, a César. O que é de Nezir, a Nezir. Está na página 43.



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