A
melhor parte
Era
a fase final das olimpíadas de 1988. Taffarel estava agarrando até pensamento.
Até menção o guarda-metas brasileiro agarrava (o camarada fazia menção que
batia num canto, batia n’outro, mas nosso goleiro, ó, caía abraçado com a redonda).
A
boa participação do goleiro brasileiro nos jogos olímpicos proporcionou a
criação de uma nova função para a minha equipe de geologia, nos trabalhos que
realizávamos na beira do Xingu. Destacou-se na campanha, o nosso agarrador de
peixes. Com direito a bordão e tudo: “segura o Pacu,Taffarel!”. Essa é a melhor
parte da história. Nos primeiros dias de acampados às margens de umas das
centenas de lagoas que se formavam no período de seca do Xingu, era peixe a dar
na canela. De tudo em quanto. A gente sabia da fartura e já na preparação da
campanha, eu definia as regras. A jornada seria na base do cabou-banhou. Daí,
era correr pro abraço. A turma que voltava mais tarde para o barraco, com a
missão diária cumprida, não chegava além das duas da tarde. Ninguém almoçava. O
rancho da empresa era só a entrada, só um aperitivo. O dicumê pra valer, a gente
tirava na hora, ali da lagoa.
Taffarel
atento, nos postávamos na areia, arrodeando a lagoa. A bom puxar. A bom puxar.
Puxávamos e lançávamos para trás, donde nosso Taffarel se encarregava de
retirar e jogar o anzol de volta mais que depressa. Mas não dava hora cheia de
pescaria e tínhamos um curral pra espocar de tanto peixe. Retirávamos alguns
para o almoço e o que ficava, a equipe se dividia, quando baixávamos para a
cidade. Agora pensa, não, 15 dias a bom fazer curral, a bom puxar peixe, a bom
nosso Taffarel trabalhar. Nossa baixada era farta. Abençoada. Minha equipe saía
com rico provimento para a família. Acho que o bom Deus vai me dar um desconto
na hora da quitação. Sei que nessa época, flexibilizando a lei trabalhista por
minha conta, e dando oportunidade para a equipe pescar, ajudei a botar o dicumê
na mesa de muito curumim.
Mas
era mina de peixe. E essa é a melhor parte da história...
Porque
eu fui um pescador ruinzinho, olha. Escrevi uma crônica que entrou na coletânea
comemorativa dos 400 anos de Belém, editada pelo poeta Cláudio Cardoso, que
fala da minha panemice como pescador na escadinha da praça Pedro Teixeira. Não
puxava nem Bacu. Anos e anos passando férias no Veropa. Lata cheia de minhocas,
anzol, linha deste tamanhão. E nada. Minha linha engatava. O peixe espertinho
esmigalhava e roubava minha minhoquinha em partes. Aqui, acolá, puxava um até na pedra, mas lá ele se soltava.
Era essa a minha sina na escadinha. Dia após dia, no zero. Só estou é que o
camarada do meu lado, pedia uma minhoca, eu emprestava pra ele, ele jogava o
anzol e de repente, puxava um teba dum peixão. Éraste, parece uma coisa!
O
Xingu foi minha redenção! Também, naquela lagoa, nos primeiros dias, parece que
meio desavisados, os peixes se deixavam fisgar até sem isca. No puro brilho do anzol.
Com
o tempo, os peixes ficavam escabreados, exigiam minhoquinhas, iscas elaboradas,
minha panemice tornava e Taffarel, sem função, voltava pra lida no campo.
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