sábado, 17 de fevereiro de 2018

crônica da semana - Vin Diesel

Eu vi o Vin
O tempo é o senhor das tentações. Mas quando que pensei um dia passar o feriadão de carnaval em casa, só ouvindo meus vinis, cozinhando pratos autorais, bicando uma gelada e nanando. Olha que nanei. A rede esteve pra furar de tanto que o soninho rendeu.
O clima, o comportamento, a placidez da cidade foram componentes que concorreram para a boa paz de quem, a romaria do carnaval, na sua casa fez. Belém se estirou em uma calmaria de zunir os ouvidos de tanto silêncio. Tirando uma ou outra passagem de carros-som perdidos pelos escombros da Aldeia Cabana, por cá reinou a tranquilidade. E eu, talvez desanimado com os rumos que o carnaval de Belém tomou, até que me dei bem com este comedimento. Digamos que fiz um retiro para dentro de mim.
Não foi, a minha reclusão, uma penitência ou uma provação. Gosto da folia. É que as coisas andam difíceis, o numerário regrado e o itinerário também. As opções são distantes e a barulhada por lá grassa. Preferi ficar na cidade me embalando em sonhos de carnaval.
A única estripulia que me permiti foi prestigiar o bloco do João, do bar The Beatles, no domingo gordo, o que já me valeu pacas.
Noutras horas de vigília zapeei pelos canais abertos da TV e dei com uma matéria interessante, ora veja, da TV Senado. Contava sobre as expedições realizadas no Brasil, no século19. Cientistas, exploradores, defendendo interesses diversos, ganharam os sertões e de lá saíram, quando saíram, com uma riqueza enorme de informações.
(Peralá, que eu já volto pro carnaval, ainda mais que não falei do encontro como o Vin Diesel).
Destaque para a expedição russa comandada por Heinrich von Langsdorff . Uma aventura que durou pelo menos 5 anos e minou o explorador de tantas febres e maleitas que o levou a demência irreversível. Por outro lado, gerou um acervo que de tão precioso, ficou escondido nos arquivos russos por mais de 100 anos.
Após a divulgação do material da grande viagem, traços marcantes da sociedade brasileira foram melhor tratados, sustentaram a formulação de uma nova História e de conceitos sociais mais bem argumentados.
Relatos, transcrições, desenhos, pinturas descreviam a natureza e o comportamento do povo brasileiro. Constatavam a manutenção de uma poderosa estrutura agrária e confirmavam a escravidão como mola propulsora da produção, em todos os rincões do território.
Um desenho produzido na expedição mostra uma reunião de escravos, no que parece ser uma festa. Expressa movimento. Canto, dança. Uma ilustração que revela a resistência de um povo que, em que pese o sofrimento, não abandona a sua identidade. Um testemunho que pode eliminar aquelas discussões rasas sobre alienação do povo no carnaval e blá blá blá, blá blá blá.
Não tenho a foto, nem desenhos, nem pintura, mas entre uma vigília e outra, neste feriadão, a imaginação me levou ao pré-carnaval no Rio de Janeiro. Lá, na agitação da Fundição Progresso, eu vi o Vin Diesel. Veio ao meu encontro, fazendo por onde eu o reconhecesse, pedisse uma foto, um autógrafo. Mas eu, nem aí. Não sou besta. No Rio, nos sonhos, no carnaval, todo mundo é estrela.


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