Eu
vi o Vin
O
tempo é o senhor das tentações. Mas quando que pensei um dia passar o feriadão
de carnaval em casa, só ouvindo meus vinis, cozinhando pratos autorais, bicando
uma gelada e nanando. Olha que nanei. A rede esteve pra furar de tanto que o
soninho rendeu.
O
clima, o comportamento, a placidez da cidade foram componentes que concorreram
para a boa paz de quem, a romaria do carnaval, na sua casa fez. Belém se
estirou em uma calmaria de zunir os ouvidos de tanto silêncio. Tirando uma ou
outra passagem de carros-som perdidos pelos escombros da Aldeia Cabana, por cá
reinou a tranquilidade. E eu, talvez desanimado com os rumos que o carnaval de
Belém tomou, até que me dei bem com este comedimento. Digamos que fiz um retiro
para dentro de mim.
Não
foi, a minha reclusão, uma penitência ou uma provação. Gosto da folia. É que as
coisas andam difíceis, o numerário regrado e o itinerário também. As opções são
distantes e a barulhada por lá grassa. Preferi ficar na cidade me embalando em
sonhos de carnaval.
A
única estripulia que me permiti foi prestigiar o bloco do João, do bar The
Beatles, no domingo gordo, o que já me valeu pacas.
Noutras
horas de vigília zapeei pelos canais abertos da TV e dei com uma matéria
interessante, ora veja, da TV Senado. Contava sobre as expedições realizadas no
Brasil, no século19. Cientistas, exploradores, defendendo interesses diversos, ganharam
os sertões e de lá saíram, quando saíram, com uma riqueza enorme de
informações.
(Peralá,
que eu já volto pro carnaval, ainda mais que não falei do encontro como o Vin
Diesel).
Destaque
para a expedição russa comandada por Heinrich von Langsdorff . Uma aventura que
durou pelo menos 5 anos e minou o explorador de tantas febres e maleitas que o
levou a demência irreversível. Por outro lado, gerou um acervo que de tão
precioso, ficou escondido nos arquivos russos por mais de 100 anos.
Após
a divulgação do material da grande viagem, traços marcantes da sociedade brasileira
foram melhor tratados, sustentaram a formulação de uma nova História e de conceitos
sociais mais bem argumentados.
Relatos,
transcrições, desenhos, pinturas descreviam a natureza e o comportamento do povo
brasileiro. Constatavam a manutenção de uma poderosa estrutura agrária e
confirmavam a escravidão como mola propulsora da produção, em todos os rincões
do território.
Um
desenho produzido na expedição mostra uma reunião de escravos, no que parece
ser uma festa. Expressa movimento. Canto, dança. Uma ilustração que revela a
resistência de um povo que, em que pese o sofrimento, não abandona a sua
identidade. Um testemunho que pode eliminar aquelas discussões rasas sobre alienação
do povo no carnaval e blá blá blá, blá blá blá.
Não
tenho a foto, nem desenhos, nem pintura, mas entre uma vigília e outra, neste
feriadão, a imaginação me levou ao pré-carnaval no Rio de Janeiro. Lá, na
agitação da Fundição Progresso, eu vi o Vin Diesel. Veio ao meu encontro,
fazendo por onde eu o reconhecesse, pedisse uma foto, um autógrafo. Mas eu, nem
aí. Não sou besta. No Rio, nos sonhos, no carnaval, todo mundo é estrela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário