Belém e as iguanas marinhas
Para tudo! Encaixotem todos os livros de
autoajuda que vocês leram ou que estão por ler. Abram a mente e se preparem
para ter um exemplo de luta incondicional pela vida. Assistam à nova temporada da série da BBC, “Planeta Terra”
e vejam o que a iguana marinha tem a nos ensinar. É de arrepiar as cristas.
Mas é também de dar dó. As iguanas adultas
põem seus ovos na praia e vão dar um rolé nas águas azulzinhas do Pacífico. Os
filhotes nascem sozinhos. Tão logo emerge dos escondidos da areia, a agonia do
filhote começa. Algumas dezenas de cobras estão só na bicora. Só esperando o
almoço dar sinal de vida. As cenas filmadas pela BBC são fortes. Cheias de medo
e tensão. Nem bem o lagartinho dá os primeiros desengonçados passos, e as
serpentes avançam. Aí a coisa pega. Filhote de iguana não tem esse negócio de
proteção de outros indivíduos adultos. Não se dá ao luxo de fazer
reconhecimento do ambiente, criar intimidade com o habitat. Nem recebe um
sustinho para estimular a respiração, nada disso. O filhotinho já tem que
nascer com a musculatura apta e a aeróbica no jeito, porque, da feita que sai
da toca, é patas pra-que-te-quero. É no corre, no pinote. E as cobras atrás,
ávidas, doidinhas pra dar uma abraço apertadinho no bebê.
É uma peça que a natureza prega, que às vezes
a gente acha até ser injusta. Muitas iguanas, apesar da desenvoltura e da
ligeireza, ficam pelo caminho, esmigalhadas pelos rolos de serpentes. Mas
àquelas que varam o cerco, a natureza dá uma forra: não têm que lutar tanto
pela comida. A iguana adulta importa-se pouco em predar para comer outros
animais. O que elas comem de vera mesmo são as acessíveis algas marinhas.
Aliás, esse detalhe da predação é um
contribuinte que concorre contra os filhotes das iguanas. Não disse lá em cima?
É um monte contra um. Não que não existam outros casos, mas, que é um azar
danado do lagartinho isso é. Na maioria das vezes, a situação se inverte. Em
outros tantos documentários, estamos acostumados a ver um único predador no
ataque a bandos robustos de caça. Acontece com o leão cercando uma manada de Gnus,
ou uma onça à espreita de um emaranhado de jacarés. São predadores que agem
sozinhos ou, quando muito, com mais dois ou três acompanhantes. Por isso as iguanas
sobreviventes são como heroínas da natureza. Logo ao nascer, mesmo antes que
digam “olá, mundo”, uma mina de serpentes saem no seu encalço, com intenções
nada amigáveis. Covardia.
Éraste, pode até ser um chute nos tentilhões
de Darwin, a minha opinião, mas tenho pra mim que não é nada bacana ser iguana
em Galápagos.
Ainda tem outra. A natureza não bate muito
com a iguanas. Falei que não precisam morder jugular de ninguém pra comer, né.
Em contrapartida, têm que mergulhar uns quarenta metros e se acostumar a
prender a respiração por aproximadamente 30 minutos para poder encher o bucho
de algas. Neste caso, a natureza nem dá o peixe, e nem ensina a pescar.
E o que tem a ver a lida dos filhotes de iguanas
marinhas, com a nossa Belém evoluída?
Tirando os tentilhões, muita, muita coisa de
corre e de pinote.
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