O efeito biri-suco
O
cimento duro e ainda mais uns trechos falhados que formavam buracos na calçada,
e que me doíam e me marcavam as costas, nem faziam parte dos meus desagrados
mais explícitos. O que me deixava sem dormir mesmo era a possibilidade real dos
cachorros que por ali vadiavam, fazerem xixi em cima da gente.
Assim
foi minhas férias num ano qualquer da década de 80, em São Caetano de Odivelas.
Aquele
último suspiro das férias, já atropelando o mês de agosto coincidiu com o Círio
de São Caetano. Não atinei para o sufocamento de gente clássico dos veraneios
no salgado. Juntei minha tropa com a tropa de um amigo e ganhamos rumo. No
total, éramos 10 pessoas. E tomávamos a responsabilidade sobre 6 crianças.
Na
chegada, tudo na paz. Alegria, contentamento e uma certa leveza no espírito
permitida pelo clima interiorano da cidade. Depois de um café rápido na feira,
saímos atrás da bandinha que se dividia em dois cortejos pelas vielas da
cidade. Chamou a atenção, uma bebida que, ao sol ainda frio da manhãnzinha, era
servida aqui e ali para os músicos e para ávidos interessados que acompanhavam
a bandinha. Era o biri-suco...
Debandamos
da bandinha e cuidamos de achar a casa que nos abrigaria. Era a casa de uma
prima distante no grau da minha namorada. Nos abancamos, arrumamos nossas
bagagens em um quarto pequeno e nos largamos a uma prosa de reconhecimento com
a parentada d’acolá.
Conversa
vai, conversa vem, nisso que o papo estava alinhado e arrematávamos uma agenda
na cidade, colocando a procissão do Círio na pauta, eis que chega o primo.
Sem
uma perna, perdida numa inglória porfia com um tubarão, o primo chegava esbanjando
gentilezas. Animado demais para aquela hora da manhã, estivera atrás da bandinha
e entornara umas quantas lapadas de biri-suco. Contatos feitos, retomamos nosso
programa com um banho de igarapé, umas cervejas à beira do rio Mojuim e a
compra, na beira salgada do rio, de uma Corvina deste tamanhão, para o almoço.
Aí
tá, né...
Depois
da peixada, quando eu já estava todo de flozô dando uns embalos na rede e
pescando um sono, numa morrinha danada, me chega a minha namorada com a notícia
de que o dito primo, aquele tão simpático de manhãnzinha, tinha se alagado no
briri-suco e voltava brabo que não te conto pra casa, disposto a fazer e
acontecer. Dizque, vinha encapetado de peixeira em punho.
Tornei
da morrinha num estalo. Chamei meu amigo, arrumamos as coisas, contamos as
criança: 2,4,6...e arribamos antes que o brabo despontasse pra espetar um no
qual pega.
Ficamos
no olho da rua. E como naquele momento a cidade estava abarrotada de gente, não
conseguimos mais nem casa, nem hotel, nem varandinha para nos acomodar.
Tudo
perdeu a graça. À noite, depois de várias tentativas, conseguimos abrigar as
crianças na casa de uma conhecida de uma conhecida do meu amigo. Nós, ficamos a
vagar. Ainda nos animamos a um folguedo no arraial, mas o cansaço nos venceu. Nos
juntamos a uns jovens que namoravam na calçada do mercado e por lá nos
ajeitamos na esperança de dormir um pouco. Mas quando! Os cachorros, por lá,
vadiavam.
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