Mirando a imensidão
Nada
a temer. O futuro ainda vai longe. 2016 é mais um ano de uma série que não se
vê fim.
Não
custa nada ser otimista. Dar um contraponto no discurso fatalista. Bori pra frente
que atrás vem gente. Pedindo passagem, se aviando. Enxergando diferente.
Mas
tô que tô me esparramando de enxerimento pra esse ano novo, visse.
E
não tô me animando nestes bons presságios assentado em conveniências românticas
ou especulações místicas. Tem ciência neste meu baque panglossiano. O rigor da
observação cravou no século 18 uma das frases mais resolutas geradas pelo conhecimento humano:
"Nenhum vestígio de um começo, e sem perspectiva de um fim”, disse Huton,
diante da imensidão do futuro transcrito nas fendas rochosas. Agora, digue lá,
se com essa perspectiva de imensidão, não dá pra estourar mais uma Cereser
daqui a pouco e fazer um brinde à confiança e à esperança. Tim-tim!
Esta minha cantilena tá parecendo um
encarreiramento de conselhos, meio no arremedo, meio do meu jeito. E é mesmo,
posto que ando meio preocupado. Os caminhos, percebo, são tenebrosos. Um leque
de intolerância se abre sobre nosso país. O radicalismo desumano temperado com
a discriminação atroz e com a ácida hipocrisia, nos rondam, ameaçam. Vibram a
cada suspiro auscultado, agora, dos plenos pulmões das ruas. Hoje em dia, ora
veja, não há comedimento nas demonstrações de aversão e desprezo.
O que se torna e o que se deixa, então, é que
minha prosa tá mais para um apelo do que para uma celebração. Gente do céu, da
minha alma e do coração. Ponhamos a mão no cocuruto. Façamos uma remissão. Pra
que já, cair no fosso abissal se podemos bailar pela imensidão das planícies.
Aos borrões, antes as cores. Aos embrutecimentos, o brilho nos olhos. Aos
coriscos queimosos, a água fria e clara. Ao entrincheiramento, o vôo livre. A
vida plena reivindica a semeadura da paz e da serenidade.
Pelo amor do santo padre, povo meu, busquemos,
no ano novo, mirar a imensidão.
Pronto. Desopilei. Desembuchei. Pus pra fora
minha vontade, quase sonho, com tino e sinceridade. Chega me deu um
desmanchamento das apreensões, um desaguamento de tensões, um desvanecimento de
medos. Sei que alguém vai me dar trela. Vai me ouvir. O ano novo precisava
começar em mim, assim, levinho e confiante.
Não vai ser fácil. Mas aí, vai da gente. Não
nos percamos românticos. Às vezes para se alcançar a generosidade, há de se
lançar mão da rabugice. O vazio prescinde o denso. O golpe, a cicatriz. O andar
da carruagem pela História, nos ensina que nenhuma vitória vem sem luta.
Eu por mim, estou a postos e ‘ostento a aguda
empunhadora à proa’ (e cito um verso do Chico para me amparar na
contextualização que fere). Vou encarar o ano novo atento e vigilante. Ainda e
acima de tudo prestimoso, disposto a construir um mundo sem dores ou rancores.
De retro que se vão nossos fantasmas. E se de outros jeitos não se forem, vão a
vassouradas.
Boto fé. O futuro vai longe. As janelas se
abrem para o amanhã e na minha convicção, vou mirando a imensidão. Que é certa
e rente como pão quente.
Sendo assim, meu caro Sodrezinho, além de endossar sua fervorosa fé nas palavras, vou tomá-las pra mim, tal como o vinho do cotidiano e fazer de sua cantilena a água de beber. Isso mesmo, ser simples assim como a água de beber, camarada! Que venha 2016, pois será nossa vez.
ResponderExcluir