Sem fôlego em Mosqueiro parte
II
Eu
e meus amigos roqueiros fomos passar uns dias na praia. Eles arrumaram uma
barraca e um quintal para nos acomodarmos. Nosso custo ia ser só na parte do de
cumê. Eu era MPB e não era assim, assim, de grana, mas dava meus pulos.
Trabalhava na feira com a mamãe e como ela via que eu já me ia rapazinho, fazia
um esforço e me arrumava um numerário vez sim, vez não, para eu dar minhas
voltinhas. Meus amigos do Rock folgavam mais nessa parte do recurso e isso nos
adiantava. Quem tinha mais ajudava o outro. Éramos, digamos assim, veranistas
comunistas.
Nossa
batidinha era tomar um café reforçado no mercado, bem cedo, pegar o bondinho,
desembarcar na praia mais distante que ele alcançasse e depois varar em recreio
de praia em praia até a vila, sempre na bicora da maré alta.
Numa
dessas estiradas, já de tardinha, a freqüência minguando, pouca gente na água,
topamos com uma turma de garotas, na conta certa de uma pra cada, brincando de
rebate com uma bolona colorida. Ficamos por ali, como quem não quer nada, avaliamos
a situação, as possibilidades. Logo percebemos que as meninas foram simpáticas
à nossa aproximação. Naquele tempo não se maldava tanto e também, a violência, as
más intenções eram ‘menas’. E tirando um pelo outro, éramos apresentados, mas
éramos de paz.
Entramos
na brincadeira com a água pela cintura e nos entregamos às batidas na bola sem
jeito e sem pretensão. Argumentos de aproximação apenas. O sol espalhava seus raios
pálidos sobre as águas de Chapéu Virado. Os contatos aos poucos foram
acontecendo. Os pares se formando, afastando-se com sutileza e dolo. A bola
ficou abandonada ao ir e vir das pequenas ondas.
Outras
ondas vibraram dentro de mim, diante daquela garota de uma alegria pródiga, de
um sorriso pleno de onde grassavam excitantes insinuações, instintivos sinais,
convites corteses. Nos olhávamos guiados pelo desejo juvenil. Havia um orgulho
de nossas vergonhas submersas e ativas, urgia a teima sensual, o descompasso
febril, a concupiscência perigosa. Parecia um sonho acompanhar o cabelo dela
deslizar sobre o Copertone viscoso e desenhar provocantes sinuosidades no
relevo de seu colo sedutor. Minhas mãos nervosas tentaram decifrar a mensagem traçada
naquela pele macia. Havia boas loucuras em nossas menções. Uma nesga de luz
amarelada chegava silente às vagas distantes e denunciava a praia deserta. Não
havia medo, vênias, espreitas ou proibições e nos adiantamos no suave declive
da praia, até que nossos corpos submergiram em carícias. Voltamos, tomamos ar,
volvemos abaixo da lâmina d’água novamente. Nos beijamos. E nessa hora vi
universos multicores. Percebi sabores e entorpecimentos. Senti um calafrio
correr-me em maravilhas pelos quatro cantos da alma. Afoguei-me em delícias...
E também me afoguei de verdade. Naquele rala-e-rola subaquático, quando quis
tornar para a superfície dei que a gente tinha deslizado mais além no declive e
não dei pé. Me embananei todinho. Não achei a pequena, bati pés, braços,
orelhas e o que mais havia de bater e não vi céu. Perdi o fôlego, bebi água pra caramba,
peguei carona numa ondinha e fui parar num montinho de areia grossa, já na
beira, tossindo pacas, assoando o nariz, tirando água do ouvido. Acabou a graça
por aí.
Já
era tarde mesmo, meus amigos roqueiros também já tinham cumprido a desobriga e
decidimos seguir viagem. Trocamos juras com as pequenas, marcamos encontro na
praça. Na vila, tomei um banho pai d´égua, me entalquei, pinguei umas gotas de
Toque de Amor e fiquei horas ao lado do coreto esperando a pequena. Mas quando,
já que ela apareceu.
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