Minhas férias
Nera
que dantes, quando a gente voltava às aulas, a primeira tarefa na escola era
fazer uma redação falando sobre as férias, nera?
Então,
pra dizer, tô numa sala de aula de uns anos atrás e vou tentar traçar umas
linhas sobre as minhas férias deste julho próximo passado. E claro fique que
escrevo hoje, porque entendo que as férias na vera só terminaram agora, na
biqueira de agosto. Teve muita gente que emendou o último fim de semana. Dei a
vaga no sábado anterior ao nosso papai herói, e agora retomo esta prosa
bucólica que só ela.
Fomos,
os Sodreres, para o Maranhão. Naquela base, né, passagens compradas com
antecedência numa super promoção, pessoas pra lá de acolhedoras, desejo
incontido de matar a saudade, de reviver grandes amizades e o estímulo, a vontade
de conhecer outras terras.
E
foi providencial esta visita. Uma passagem rápida, mas que nos mostrou o quanto
arrumadinha e bem traçada é São Luís. A ilha
nos surpreendeu pelo alívio, pelo ar desafogueado, pelo germezinho de
liberdade que a cidade inocula na gente. Esta despressurização talvez tenha a
causa na sua localização à beira mar. Como diz meu compadre Quelemém, “São Luís
é Belém com uma Salinas dentro”. Além da sensação térmica aprazível, a cidade
nos dá de bandeja o centro histórico. Na minha opinião, a grande sacada de São
Luís é integrar os valores arquitetônicos do centro com a produção artesanal.
As engrenagens se completam. As lembrancinhas, os símbolos do Maranhão, podemos
encontrá-los expostos em escaninhos seculares, em prédios azulejados nas mais
tradicionais cerâmicas européias. As reentrâncias calçadas em paralelepípedos
dispõem-se no centro histórico como o próprio traçado da memória (incluindo,
até mesmo a depreciação, o desgaste, o descaso que atravessam os tempos).
Quando ouvimos falar que há um zelo pelo centro histórico de São Luís, estamos
diante de uma verdade.
Demos
um pulinho em São José de Ribamar, que é cidade ao pegado de São Luís e que me
revelou a origem do santo. Eu não sabia, mas o José de lá, é o mesmo pai de
Jesus. Há uma estátua do santo num pontal bem acima da praia e este local é que
dá o sobrenome ao santo carpinteiro. Ribamar vem de “riba”, acima e “mar”, vem
de mar mesmo: o José que está acima do mar. Em Ribamar tive um reencontro com a
família Farias, almas generosíssimas que vivem me abrigando (a primeira vez que
me tomaram no colo foi em Altamira. Eram a minha família à beira do Xingu).
De
volta a São Luís, passamos uma noite dançando e nos maravilhando com os mais
variados estilos de boi.
Tínhamos
porque tínhamos que ir aos Lençóis. E fomos. Destaque para a estrada que leva ao
parque natural. Impecável. Sem um risco que a desabone.
A
nossa base foi Barreirinhas (que tem uma placa logo na entrada avisando que ali
não se tolera a poluição sonora). De lá, nos embrenhamos em aventuras. Em uma
tarde, chegamos às dunas por terra, numa espécie de rallye onde a caminhonete
enfrenta a resistência da estrada de areia pura e em alguns casos, embica e
mergulha de dar medo nos lagos que se multiplicam pelo caminho. O pôr do sol
nos lençóis é coisa que entontece.
Mas
a melhor lembrança que trago de São Luís, é a lua nascendo no mar. Pesquisei a
data da lua cheia, tomei emprestada uma bússola do meu anfitrião, localizei o
nascente. Pedi pra minha irmãzinha Cléo Farias sugerir uma praia com vista
livre e desimpedida para Leste. Foi Calhau e foi batata. Assim, bem na linha da
água, a lua mostra-se em um tamanho absurdo e reflete uma beleza acintosa,
extravagante.
Fomos,
os Sodreres todos, para o Maranhão e trouxemos a lua no coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário